Diversos funcionários da OGMA tiveram há dias de receber assistência médica devido a sintomas provocados pelo uso de um solvente alegadamente contaminado. O produto, que não é usado nas fábricas que a dona da empresa tem no Brasil, provocou inflamações, tonturas, dores de cabeça e deixou as palmas das mãos "completamente vermelhas" a alguns dos trabalhadores..A informação consta de um requerimento do Bloco de Esquerda ao ministro da Defesa com três perguntas (ver caixa), intitulado "violação de regras essenciais de saúde e segurança no trabalho na OGMA". Os primeiros casos - todos na seção das "montagens de estruturas" - terão ocorrido em meados de março e após o manuseamento de um determinado lote de MEK (designação de Methyl Ethyl Ketone), levando a que a médica da empresa e a responsável pela área de Saúde e Segurança no Trabalho promovessem "uma "sessão de esclarecimento" improvisada" sobre o caso..Parte da explicação para os problemas de saúde registados são atribuídos a alegadas poupanças na aquisição de luvas e máscaras apropriadas, feitas por monitores e supervisores cuja gestão do respetivo limite orçamental conta para a sua avaliação e participação nos lucros da OGMA, conforme a informação que os trabalhadores fizeram chegar ao grupo parlamentar bloquista..Segundo esses funcionários, as duas especialistas comunicaram na dita reunião que ainda era desconhecida a causa da contaminação mas que o lote contaminado tinha sido removido do local. Contudo, a 22 de março (uma semana após a ocorrência dos primeiros casos), "constatou-se que apenas parte dos frascos de MEK haviam sido removidos da linha" para não afetar a produção. Como os frascos não estão identificados, "é impossível distinguir" os que contêm solvente contaminado dos que pertecem a outro lote, lê-se no requerimento do BE..Perceber se a composição do solvente se alterou por erros na sua diluição ou degradação do material dos frascos e, principalmente, se os problemas de saúde registados se deveram à não utilização de equipamentos de proteção ou por falhas no sistema de ventilação são aspetos por esclarecer, precisou uma das fontes consultadas pelo DN..Segundo outras das fontes, tanto a médica como a técnica de saúde alertaram no referido encontro que o MEK não deveria continuar a ser utilizado por não ser o mais adequado, dado haver alternativas mas mais caras, que são usadas por empresas como a TAP ou nas fábricas da Embraer no Brasil. Contudo, a sê-lo, "nunca sem luvas de latex", contou uma das fontes presentes..O problema, segundo o texto do BE e as fontes consultadas pelo DN, é que muitos dos funcionários - em especial os que estão com contratos temporários e esperam passar para os quadros da OGMA - trabalham muitas vezes sem luvas porque elas - entre outros equipamentos de proteção individual - não existem em número suficiente. As próprias máscaras são próprias para filtrar poeiras e partículas, mas não gases que podem ser tóxicos, indicaram os queixosos..De acordo com as informações disponíveis sobre os efeitos do MEK na saúde de quem o manusea, são poucos os estudos relativos à sua perigosidade a longo prazo. Mas é um produto cujos vapores podem provocar sintomas como náuseas, dores de cabeça, tonturas, irritação nasal e ocular ou até perda de consciência..AS PERGUNTAS DO BE."O Governo tem conhecimento desta situação?"."Tem conhecimento de ações inspetivas realizadas por parte da Autoridade das Condições de Trabalho (ACT) à OGMA, designadamente com fundamento em violações de normas de saúde e segurança no trabalho? Qual foi o resultado dessas ações inspetivas?"."Que medidas pretende tomar com vista a garantir o cumprimento das regras de saúde e segurança no trabalho na OGMA e a assegurar a prevenção de riscos e doenças profissionais na empresa?".EVOLUÇÃO.Privatização iniciada por Portas.A OGMA é uma empresa detida maioritariamente pela Embraer, o construtor aeronáutico brasileiro que a recuperou da situação difícil em que viveu durante anos. A sua privatização parcial (65% do capital) foi aprovada pelo então ministro da Defesa Paulo Portas, após estar diretamente ligada à Força Aérea ao longo do tempo. Os seus responsáveis eram mesmo pilotos--aviadores e até ex-comandantes do ramo, como o general Aleixo Corbal. Agora continua a dar apoio aos militares, mas a sua grande carteira de encomendas está no setor privado.