Tony Blair: "Um novo referendo sobre o Brexit teria um resultado diferente"

O antigo primeiro-ministro britânico manifestou esperança numa nova consulta sobre a saída do Reino Unido da União Europeia.
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A primeira intervenção de Tony Blair na Web Summit teve lugar num placo secundário com lotação mais do que esgotada. Milhares de pessoas quiseram ouvir o que o antigo primeiro-ministro do Reino Unido tinha para dizer sobre a "história interminável" em que o Brexit se transformou. Blair nunca escondeu ser contra a saída do Reino Unido da UE, e foi conquistando os aplausos da plateia sempre que fazia questão de o reforçar.

Logo no arranque da palestra, Tony Blair mostrou ao que vinha. "Acho que o Brexit é uma ideia terrível, ainda espero que não aconteça. Acredito que ainda é possível haver outro referendo, o que seria bom porque as pessoas estão hoje muito mais informadas. E se lhes for dada a oportunidade de refletir outra vez, o resultado de um novo referendo será diferente", destacou.

Um segundo referendo vai depender do resultado das eleições de 12 de dezembro. Para Tony Blair, repetir a consulta não é "ter medo da opinião das pessoas" nem é antidemocrático, "pelo contrário".

Questionado sobre o que pode ter motivado a decisão de 51% dos votantes britânicos há três anos, o antigo líder britânico respondeu que, por um lado, terá sido a disseminação dos populismos na Europa. "Foi um grito de raiva em relação ao sistema político e em relação a questões como a imigração. O problema é que enquanto na Europa os populismos se refletiram apenas na eleição de líderes, no Reino Unido tiveram um efeito mais lato de política interna".

A questão das migrações e da globalização foi, reconheceu Blair, o principal fio condutor da decisão do povo britânico no dia 26 de junho de 2016. O problema é que "o populismo não é política popular, é quando se cavalga a onda do ódio sem se ter uma solução para ela", sublinhou.

Segundo Blair, se um político é contra a imigração, "nem vale a pena candidatar-se a um cargo num país ocidental hoje em dia". A globalização deve antes ser celebrada pelas conquistas "incríveis" que permitiu aos EUA e à Europa, destacou.

Por outro, acrescentou o antigo primeiro-ministro, o Brexit também nasceu do "mito" de que o Reino Unido não é um país soberano e está dependente das decisões de Bruxelas. "Isso não faz sentido nenhum. Nos dez anos que fui primeiro-ministro nunca fui obrigado pela União Europeia a tomar alguma decisão".

"O problema do Brexit é que não é resposta para nada e tem um potencial destrutivo. Este processo está a sugar toda a energia do sistema e não resolve nada que tenha a ver com saúde, educação ou desafios tecnológicos".

E tal como Michel Barnier já tinha destacado de manhã no palco principal, também Blair afirmou que se a Europa não se unir nos próximos anos, será reduzida a um papel muito inferior no xadrez da política e da economia mundial, em favor dos EUA, da China e da Índia.

Quando tudo isto acabar, concluiu Blair, "o que vai sobrar é um público muito desiludido, porque espera respostas que o Brexit não vai dar". Ainda assim, o antigo habitante do número 10 de Downing Street apelou a uma decisão rápida, seja ela qual for, porque "não podemos andar a discutir isto para sempre".

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