Tomada de posse com gritos e empurrões

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O novo Presidente do México, Felipe Calderón, prestou juramento às 00.00 de ontem (hora mexicana) e assumiu o cargo, numa cerimónia antecipada e, sobretudo, inédita. O evento foi curto, não se realizando no congresso federal, embora tenha sido transmitido pela televisão para todo o país. Horas depois, o novo presidente deslocou-se à sede da legislatura, onde no meio da maior desordem recebeu a faixa presidencial das mãos do chefe de Estado cessante, Vicente Fox.

Na ocasião, Calderón tentou falar, mas isso foi impossível, devido ao barulho na sala. Enquanto os seus apoiantes ocupavam a tribuna onde ele se encontrava, os deputados da oposição boicotaram a cerimónia, mantendo os protestos mesmo durante o hino nacional.

O tumulto foi provocado pelos deputados do Partido da Revolução Democrática (PRD, de esquerda), os quais apoiam o candidato derrotado nas eleições de 2 de Julho, López Obrador. A esquerda reclama que houve fraude. Após o primeiro anúncio da vitória do candidato conservador (proposto pelo Partido de Acção Nacional, PAN, a que também pertence Fox), houve recontagem de votos que confirmou Calderón na presidência, mas desta vez por diferença mínima em relação a Obrador, apenas 0,56 pontos percentuais.

Desde então, a instabilidade política acentuou-se, sobretudo nos dias anteriores à transferência de poder. Ontem, nas ruas da Cidade do México, milhares de pessoas protestaram contra a investidura e convergiram depois para o edifício do congresso, onde o novo presidente também tentava repetir o juramento que já fizera na presidência. O forte dispositivo de segurança, de pelo menos 7 mil polícias, evitou cenas de violência nas ruas da capital. Para a oposição, Calderón é um "usurpador". O líder da esquerda explicou que o objectivo da manifestação era o de contestar "a fraude eleitoral" de 2 de Julho: "Violaram a Constituição, espezinharam a dignidade dos mexicanos, não respeitaram a vontade do povo, impuseram um golpe de Estado, gerando a instabilidade política", disse Obrador.

Na cerimónia de juramento, o Presidente mexicano fez um apelo ao respeito pela constituição: "Entrámos numa nova etapa e o interesse nacional deve estar acima das nossas divergências", disse Calderón. O novo governo já está formado e acomoda as diversas sensibilidades do PAN, entre as tendências muito conservadoras e as liberais. A figura mais conhecida no exterior será Agustin Carstens, que já foi director do Fundo Monetário Internacional (FMI), e que recebe a pasta das finanças.

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