Todos contra Trump
Bernie Sanders está virtualmente afastado da corrida democrata mas não quer desistir. Do ponto de vista de quem o apoia, faz bem. A sua candidatura foi de rutura com a agenda mais ao centro com que o partido tem pautado as últimas duas décadas e as expectativas iniciais foram largamente superadas. Por isso, irá à convenção de Filadélfia tentar influenciar as linhas com que se cozerá uma possível administração Clinton. Do aumento do salário mínimo à recusa dos tratados de livre-comércio, do corte com o financiamento partidário vindo de Wall Street à universalidade do Medicare, ou mesmo a defesa do fim do modelo de exploração de gás e petróleo de xisto. A base que o acompanha com entusiasmo e o seu estatuto de outsider compõem os termos da não desistência. Isto não significa que Hillary alinhe com o cardápio, pode é ficar condicionada se quiser arregimentar esses eleitores em novembro. O que parece certo é que vai virar totalmente baterias para Trump, coisa que, aliás, já está a acontecer. O domínio do republicano nas cinco primárias desta terça-feira reforça essa estratégia. Se a Hillary bastam 24% dos delegados que ainda estão por disputar nas 14 primárias que faltam, Trump tem de conquistar um pouco mais de metade dos que estão em jogo nas dez que restam. Apesar da dinâmica imparável de vitórias, a grande dúvida permanece: chegará o fim com os delegados necessários à nomeação? Como já aqui referi, é difícil que mesmo que não os consiga o partido não o valide em convenção, até porque até hoje Trump teve mais cem mil votos do que Mitt Romney em toda a corrida republicana de 2012. Ou seja, a legitimidade popular é enorme, mesmo que venha a ficar aquém das regras colegiais. Um problema para o GOP? Certamente. Por isso é que, neste clima de incerteza, Clinton tudo fará para desgastar Trump e o partido, pondo-os uns contra os outros. Falta saber como.