Todas as lentes vão dar a Vila Franca de Xira. Chegou a Bienal de Fotografia
Quinze exposições, 30 artistas, cinco encomendas específicas para a cidade. Olhe-se para onde se olhar, até 29 de janeiro vai ser impossível estar em Vila Franca de Xira e não ver a Bienal de Fotografia, que abriu as suas portas ontem.
O mapa que estará em cada um dos seus lugares propõe arrancar o percurso no pavilhão multiusos, abrigo de Vítor Pomar, mas a visita começa na Fábrica das Palavras, cenário perfeito para o tema da Bê-Éfe, como lhe chamam: Arquivo e Observação.
David Santos, atual subdiretor de museus da Direção Geral do Património Cultural e natural de Vila Franca de Xira, assumiu a curadoria-geral da Bienal de Fotografia, e a opção de espalhar o evento por toda a cidade, novidade desta 13.ª edição. Dos lugares convencionais, como os museus - o Municipal e o do Neo-Realismo, que o curador dirigiu - aos sítios fora da caixa: casas para venda, um clube privado, hotéis, o mercado...
Com ele trabalharam os curadores Margarida Mendes (The Barber Shop) e Bruno Leitão (Hangar). "A pluralidade é o que nos interessa", diz David Santos. "Provocar o observador nas várias dimensões que os artistas trabalham."
Dos 30 artistas selecionados "com o intuito de projetar um diálogo prolífico com a cidade", cinco produziram de propósito para a BF16: José Pedro Cortes, Júlia Ventura, Patrícia Almeida, Daniel Blaufuks e José Maçãs de Carvalho, que ficou na biblioteca.
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A primeira fotografia de Maçãs de Carvalho está à altura do primeiro piso, mas com boa visibilidade desde o rés-do-chão. É uma parede de livros, simétrica. "Remete para o lugar onde estamos", nota o curador. Mas há outras camadas leitura, explica. Como a sequência de cores que se vê na imagem, e funciona como a paleta de cores de um artista. A esta imagem seguem-se outras seis espalhadas pelos vários pisos da biblioteca. Algumas obrigam o visitante a aproximar-se para entender o que se passa, outra é uma citação da fotógrafa alemã Candida Höfer: um arquivo vazio à espera de ser preenchido, com uma presença humana em posição ascendente.
Maçãs de Carvalho, 56 anos e uma carreira em que se somam as abordagens ao que é o arquivo, fala dele até numa fotografia a uma ampliação de Gioconda, "o ícone maior da história da arte, sempre presente em todos os momentos", diz David Santos.
Antes de deixar a Fábrica das Palavras, paragem no auditório, onde, aos sábados, se projeta Le Boudin, de Salomé Lamas, um filme de 16 minutos (2014).
Duas horas de percurso
O curador-geral estima que o percurso dure cerca de duas horas. A câmara de Vila Franca de Xira investiu 80 mil euros, dados do vice-presidente da câmara municipal, Fernando Paulo Ferreira, e da diretora do departamento de Cultura, Fátima Faria Roque, fornecidos notando que estas contas não estão fechadas. Seguimos para os Paços do Concelho onde está uma solitária fotografia de Rodrigo Oliveira, pensada há muito pelo curador: a do homem que segura várias luzes fosforescentes, em equilíbrio instável. "A peça é uma citação de uma citação, como a política é uma citação de uma citação".
O percurso segue até ao número 10/12 da rua João de Deus, uma casa para venda, como se anuncia na fachada. David Santos diz que pensou nela para Daniel Blaufuks, garante que não disse nada, mas é o artista que aqui está, numa casa térrea, com tinta a descascar nas paredes, instalações elétricas à vista, revestimentos antiquados. É uma casa do início do século XX, semelhante a muitas outras da zona, que Blaufuks encheu com fotografias de pequena dimensão da série Léxico em passe-partouts de época.
A caminho do Museu Municipal, paragem no mercado um desse lugares "detonadores da participação das pessoas". O artista João Paulo Feliciano mostra cerca de 50 imagens da série Xabregas City , compiladas em Marvila, onde tem o seu estúdio.
Ato seguinte, estamos no Museu Municipal, casa dos artistas Ana Rito, João Onofre, João Tabarra, Mumtazz+Fernando Lemos, Rui Toscano, Vasco Araújo e Pauliana Valente Pimentel, que, no local, explica à imprensa The Passenger, a série da qual foram retiradas as seis imagens de 17 que traz à BF16. Resultam de uma viagem financiada pela União Europeia, que passou por países como Estónia, Letónia, Lituânia. A artista, finalista do prémio Novo Banco Photo deste ano, diz que "foram encontros fugazes, a correr, mas mesmo assim consegui captar os momentos".
O bidimensional de José Pedro Cortes
Derradeira paragem: o barroco salão de festas do Clube Vilafranquense com palco, paredes com molduras salientes, candelabros e espelhos. Tudo tridimensional, e um desafio para José Pedro Cortes, que aqui mostra Concreto Armado - um jogo que envolve a palavra brasileira para cimento e o armado como cenografia. As suas fotos desafiam o 3D do lugar para o qual escolheu "aquelas [imagens] em que o lado visceral dos materiais vinha ao de cima". Há placas verticais espalhadas e, sobre elas, as suas fotografias numa escala irreal. "Tinha de encontrar um dispositivo que arquitetonicamente mostrasse uma intervenção minha", nota. É o que explica também que tenha usado vários extensores para "esconder a sala".
O percurso proposto termina noutro lugar improvável: o hotel Lezíria Parque, onde Luísa Baeta, vencedora do prémio de 2014, expõe em nome individual. A exposição com os 10 finalistas (entre 93), deste ano, é inaugurada no dia 19 de novembro no Celeiro da Patriarcal. As mostras dos candidatos aos prémios temáticos, Tauromaquia e Concelho de Vila Franca de Xira, acontecem entre 4 de fevereiro e 19 de março de 2017.
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(Alteração: O fim do programa curatorial foi corrigido)