Todas as culturas no Martim Moniz, incluindo a tradição portuguesa
Aprender a dançar à Bollywood, a fazer pão indiano (chapati) e sopa ucraniana (borscht). Usar sari com tranças africanas. Ouvir música clássica, coral, cantonesa, o chorinho e o samba instrumental. Conhecer as pessoas através da fotografia e do cinema. Percorrer caminhos, sabores e culturas. É o que propõe o programa Todos- Caminhada de Culturas, iniciativa da Câmara de Lisboa, a decorrer no Martim Moniz, que se tornou num local de encontro de migrantes. Entre quinta-feira e domingo.
"Todos" é uma festa de culturas que confinam no Martim Moniz e que se alastram à Praça da Figueira, ao Rossio, à Mouraria e ao Intendente. O que é bem visível através dos residentes e das lojas ali instalados. A "rota das compras" proposta pelo programa passa pela Loja Kalinha, Meiri, Moinho do Lis, Saifim Islam, Supermercado Chen, Minimercado Iqra, Drogaria Indiana, Talho de Bangladesh, Leitura de Cartas, a Mesquita, a Igreja Envagélica, mas também pelo Hospital das Bonecas, o Hospital das Camisas, a Casa da Sorte e a Igreja de São Domingos, só para falar em algumas. E que, também, quer dizer que a cultura portuguesa persiste num espaço a que chegam comunidades de todo o mundo. O distrito de Lisboa acolhe 42,7% dos 440 277 imigrantes que vivem no País.
E a casa dos Amigos do Minho, presidida por José Ramada, abre as portas da cozinha para que indianos e ucranianos confeccionem os seus pratos. E Fernando Baguinhas, o sapateiro da Mouraria, recita as suas quadras que contam as histórias do bairro. E claro que, também ali, se fará silêncio para cantar o fado.
A iniciativa é da Câmara Municipal de Lisboa, através da vereadora Manuela Júdice, responsável pelo projecto "Lisboa encruzilhada dos Mundos". "A ideia surgiu há um ano no quadro do acordo do movimento Cidadãos por Lisboa. E o que propusemos foi que não se ficasse pelas questões políticas, mas que se alargassem as iniciativas às questões culturais", explica Manuela Júdice. O Martim Moniz surgiu naturalmente como o espaço ideal para acolher o projecto.
Inês Barahona, Madalena Vitorino, Giacomo Scalisi e Miguel Abreu, da Academia de Produtores Culturais, foram os escolhidos para organizar o evento. Tiveram um orçamento de 300 mil euros e cinco meses para conhecer o espaço e as etnias que nele habitam. Vencer barreiras e comunicar sem ter uma língua comum. Contornar dificuldades, os becos e as escadinhas onde imperam as leis da droga e da prostituição.
A fotografia, em cinco exposições, é o elemento que une o evento e os habitantes locais, realidades de quem retrata. E é com uma conversa com os fotógrafos que tem início o programa, quinta-feira às 18.00, no Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, na Rua da Palma. Esse dia encerra com um concerto da Incrível Tasca Móvel; sons que não se explicam em palavras. As festividades continuam.