Tocar o céu na maratona
Uma necessidade que se tornou um vício e um sinónimo de desafio, alegria e bem-estar. Comecei a correr para perder peso e conseguir passar nos testes práticos de Educação Física. Corria 15 ou 20 minutos a um ritmo baixo e chegava-me, não conseguia mais. E, quando o secundário terminou, correr por correr parecia não fazer sentido e o que escasseava de motivação sobrava em outras formas de passar o tempo, embora a corrida seja o desporto mais simples e barato de se praticar. A dada altura, fez-se luz na minha cabeça: porque não participar numa prova? O objetivo de completar sete quilómetros ao lado do meu pai foi o início de uma história de amor.
Depois, o desafio passou a ser percorrer distâncias maiores e completá-las no menor tempo possível. A motivação de sair de casa para correr contagiou os cuidados com a alimentação e com o descanso, tudo para retirar uns segundos aos recordes pessoais em milhas, léguas, dez quilómetros e meia maratona.
Entretanto, uma fatalidade roubou-me o meu companheiro de vida e de tantas e tantas aventuras no asfalto, na pista e em terreno de corta-mato, o meu pai, o que depois do luto me fez sentir necessidade de lhe dedicar algo bem grande. Foi então que resolvi lidar com o mostro da corrida com o qual ainda me faltava lidar e com o qual nunca tive grande pressa em lidar: a maratona. Foram horas e horas de quilómetros de treino em solitário, só com o relógio no pulso esquerdo e uma embalagem de gel no bolso, enquanto o sol acordava.
Os resultados dos treinos davam-me confiança, mas eu receava que aspetos fisiológicos e o chamado muro dos 30 km me afetassem. Não preguei olho na noite antes do grande dia, mas felizmente os astros estavam alinhados e cheguei à meta antes que o relógio marcasse três horas. Foi como tocar o céu. Pelo feito e pela dedicatória.