"Tivemos de aumentar os preços, mas aumentámos menos do que a inflação"
O aumento de preços era inevitável. A inflação "atacou" todos e o maior grupo alimentar do mundo foi, nas palavras do seu CEO, Mark Schneider, obrigado a refletir esse aumento nos preços dos produtos. Em parte, pelo menos. De acordo com o executivo, o grupo internacional procurou fazer o aumento de uma forma "responsável", de forma que o incremento não acompanhou o valor da inflação.
As declarações foram proferidas à imprensa, à margem das comemorações dos 100 anos da Nestlé em Portugal, assinalada com a conferência Nestalk, subordinada ao tema "O papel das empresas na liderança da sustentabilidade".
"Todos tiveram de aumentar preços porque todos na cadeia de valor foram afetados pela inflação", explicou o CEO, acrescentando que a empresa "levou tempo a ajustar os preços", mas acreditando que fez "de uma forma muito responsável". Ainda que isso tenha significado, assegurou, um decréscimo da margem bruta (diferença entre os preços de venda e os custos), e que, ao contrário do que tem sido noticiado e que é convicção dos consumidores, a Nestlé não tem beneficiado da inflação. Bem pelo contrário, garante Mark Schneider: "Somos uma vítima da inflação."
Questionado sobre previsões de melhoria, o CEO da Nestlé afirmou que "ainda vivemos um cenário de inflação", mas reconheceu que esta não é tão forte como no ano passado. Por outro lado, há que ter em conta que a subida de preços foi transversal: "Não há uma única categoria que não tenha sido atingida."
Além da inflação, o aumento dos custos, nomeadamente das matérias-primas - com particular relevo para os cereais - e da energia continuam elevados, com o dirigente a desejar um alívio dos mesmo, algo que irá permitir impulsionar as vendas pelo valor e não pelo volume. Porque hoje é notório que o consumidor está mais suscetível ao preço.
No que concerne ao mercado nacional Mark Schneider espera que "continue a ser um mercado de crescimento". Embora sem revelar números concretos quanto a previsões para este ano, sabe-se que a empresa fechou 2022 com vendas totais de 677 milhões de euros, o que representa um aumento de 8,3% face a 2021.
Anna Lenz, diretora-geral da Nestlé Portugal, apontou o investimento feito na modernização da fábrica em Avanca -- 25 milhões de euros -- sendo que a empresa irá continuar a investir no mercado nacional, por forma a aumentar a capacidade instalada. Embora não tenha adiantado novos planos específicos de investimento para Portugal Anna Lenz lembrou que o grupo investiu, nos últimos três anos, mais de 200 milhões de euros em Portugal. A par disso a Nestlé pretende transformar as instalações de Lisboa numa espécie de hub para as várias atividades digitais da empresa.
Convém lembrar que a Nestlé abriu recentemente, no norte do país, um segundo business centre para prestações de serviços da empresa na Europa, estando ainda prevista, para este ano, a contratação de cerca de 100 pessoas. Número que, segundo Anna Lenz, está em linha com as contratações feitas em 2022.
Se a sustentabilidade é um caminho incontornável, mas tem custos, para Mark Schneider é claro que "o custo de não fazer nada será bem mais elevado". Questionado sobre o que está a fazer a Nestlé a esse nível, o CEO apontou duas áreas onde o grupo está a trabalhar ativamente. Por um lado, desenhar embalagens de menor dimensão e que utilizem menos matérias-primas. Por outro, o grupo assumiu a "guerra" ao plástico, apostando na reciclagem ou reutilização.
A Nestlé comprometeu-se, em 2018, a ter 100% das suas embalagens recicláveis ou reutilizáveis. E para o conseguir vai, numa primeira fase, reduzir em 20% a utilização de plástico virgem até 2025, passando a usar plástico reciclado.
São medidas, aponta o CEO, do grupo, que visam atingir as metas ambiciosas: ser net zero em 2050 e reduzir a sua pegada em 25% já até 2025. O caminho está a ser trilhado: "Já cortámos 18%."