Inventado há duzentos anos, o papel-carbono, mais conhecido por papel químico, era um recurso comum até há bem pouco tempo. Tão comum que deu origem a uma expressão, geralmente com implicações pouco abonatórias para o visado: «Fulaninho tem um feitio tirado a papel químico do pai/avô/tio, etc.» Ou: «As últimas temporadas do Sporting parecem tiradas a papel químico.» Ou ainda: «Agora, os trabalhos dos alunos são todos tirados a papel químico» (um paradoxo, já que os trabalhos são tirados da net e os alunos apenas têm do papel químico a vaga ideia de que serve para copiar). Quem fez a primária nos anos 1970 ainda deve lembrar-se de responder a testes escritos em anil; ou então «passados a stencil», designação para as funções da maquineta que reproduzia folhas para a turma inteira, uma coisa já de vanguarda... O stencil, as fotocopiadoras, as impressoras e, genericamente, toda a tecnologia digital foram minando o uso do papel químico. São já uma relíquia estes exemplos da Kores, fabricados em Portugal, com a estátua equestre de D. José I e o Arco Triunfal da Rua Augusta sobre fundo azul. No entanto, de cada vez que enviamos um e-mail e usamos a função «cc», endereçando a mensagem em simultâneo para outro destinatário, estamos a recuperar o papel químico. É que o significado original de «cc» não é «com conhecimento de» (dando aquele ar de quem está a fazer queixinhas), mas sim carbon copy, «cópia de carbono». Ou seja: papel químico.