Tibete celebra 50 anos de revolta à procura de um sucessor para o Dalai Lama

 Líder tibetano admite escolher ainda em vida <br />
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A procura do 14.º Dalai Lama começou em 1935, quando a cabeça embalsamada do seu antecessor terá rodado para apontar a direcção aos monges budistas que procuravam um novo líder para o Tibete. Encontraram-no em Tenzin Gyatso, que, aos 15 anos, meses antes de as tropas chinesas invadirem o território, teve de assumir o cargo. Nove anos depois, perante a repressão pelo sangue da revolta contra os abusos dos soldados de Mao Tsé-tung, que estavam empenhados em pôr fim à cultura tibetana, percebeu que não havia mais diálogo com Pequim e decidiu partir para o exílio na Índia.

Cinco décadas depois, enquanto se preparam para celebrar, amanhã, meio século da revolta, os tibetanos interrogam-se sobre o seu futuro quando o Dalai Lama morrer. Um assunto que ganha mais actualidade à medida que os sinais de velhice se fazem notar em Tenzin Gyatso. Aos 73 anos, este foi internado várias vezes nos últimos meses, aumentando as especulações sobre o seu possível sucessor.

"Sem dúvida que quando alguém tão carismático como o Dalai Lama morrer, os tibetanos vão perder muita da atenção mundial de que dispõem", explicou ao International Herald Tribune Tenzin Tethonmg, do Instituto de Estudos Tibetanos da Universdiade de Stanford, nos Estados Unidos.

O próprio Dalai Lama já manifestou a sua preocupação com o dia em que deixar de governar, mesmo que um Executivo exilado em Dharamsala. E foi a pensar nesse dia que em 2007 admitiu, em entrevista ao japonês Sankei Shimbun: "Se o povo tibetano quiser manter o sistema do Dalai Lama, uma das hipóteses que estou a considerar com os meus conselheiros é seleccionar o próximo Dalai Lama enquanto ainda estou vivo." Esta decisão vem pôr em causa centenas de anos de tradição. De facto, durante 13 encarnações, sempre que o Dalai Lama morreu, os monges percorreram o Tibete em busca da criança na qual a sua alma teria reencarnado. Este ritual constitui a própria base do budismo tibetano: a reencarnação e a crença num grupo de monges constantemente renascidos.

Esta opção, tal como a que passaria pela eleição de um sucessor pelos tibetanos pretendem evitar o que aconteceu em 1995 quando, após a morte do Panchen Lama, a segunda figura na hierarquia tibetana, a criança que os monges disseram ser a sua reencarnação ter sido rejeitada pela China e desaparecido pouco depois com a sua família.

Um dos nomes que surgem quando se fala em sucessor para o Dalai Lama é o do Karmapa Lama. Aos 24 anos, a terceira figura mais importante do budismo tibetano vive um exílio dentro do exílio na Índia. O líder da seita Kagyu, está refugiado num mosteiro nos arredores de Bodh Gaya, na região mais ocidental da Índia. É aí que estuda coreano à noite e, quando fala em público, gosta de interromper o tradutor para expressar a sua indignação num inglês quase perfeito. Aceite tanto pelos tibetanos no exílio, como pelas autoridades chinesas, o Karmapa Lama pode ser uma hipótese em caso de compromisso entre Pequim e o Governo em Dharamsala.

Em 2007, o próprio Dalai Lama colocou a hipótese de o seu sucessor ser uma mulher. Apesar de haver mulheres lamas, os homens constituem a larga maioria dos monges. Além disso, é raro os lamas não reencarnarem numa criança do mesmo sexo.

Outra mulher sempre referida quando se fala na sucessão do Dalai Lama é Yabshi Pan Rinzinwangmo, a filha do 10.º Panchen Lama com uma médica chinesa, que trabalhava para o exército de Mao Tsé-tung. Aos 25 anos goza de apoio popular e é bem vista por Pequim.|

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