"The Terror": O orgulho britânico perdeu-se no Ártico

A minissérie The Terror, baseada em factos verídicos, que o AMC estreia na terça-feira, começa com uma expedição ao Ártico e converte-se num buraco negro da história britânica. Jared Harris e Tobias Menzies falaram com o DN em Madrid.
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Pode contar-se sem arruinar o final: todos os homens que em 1845 embarcaram em Londres numa expedição ao Ártico à procura de uma passagem para o Pacífico morreram. É nos porquês desta tragédia que vive The Terror, a minissérie de 10 episódios baseada em factos verídicos que o canal AMC estreia em Portugal esta terça-feira, às 22.10, em dose dupla.

The Terror é nome de barco da marinha real britânica. Foi usado para combater Napoleão tal como Erebus, o outro navio que seguiu nesta expedição ao Ártico e que se perdeu. As missões científicas por mares nunca antes mapeados eram o destino destas embarcações uma vez terminada a guerra. John Franklin assume o comando, o irlandês Francis Crozier e o inglês James Fitzjames acompanham-no. Peças-chave na trama, são interpretados na TV pelos atores Jared Harris e Tobias Menzies, que o DN encontra numa manhã fria de março num hotel de cinco estrelas em Madrid.

Jared Harris descreve assim a minissérie: "É um drama de horror psicológico, uma história de aventuras, parcialmente baseada em factos e com um elemento sobrenatural introduzido por Dan Simmons". Refere-se ao escritor norte-americano autor do romance The Terror, publicado em 2007, a partir dos factos que conduziram ao desaparecimento de uma tripulação de mais de uma centenas de pessoas entre 1845 e 1848. É, também, um dos produtores na ficha técnica da série The Terror, ao lado da Scott Free, de Ridley Scott, EMJAG Productions e Entertainment 360.

"Procuravam a Passagem do Noroeste, seguindo a teoria de que existia uma rota que ligava Atlântico e Pacífico pelo Ártico, bastando para isso quebrar o gelo. Mandaram a sua melhor tecnologia, como motores a vapor e comida enlatada. Era essencial nestas expedições, porque não podiam reabastecer, tinham de levar tudo e inventaram a comida enlatada", continua. "Achavam que iam descobrir a Passagem. Nunca mais se ouviu falar deles", conta o ator, 56 anos, rosto conhecido de quem acompanhou a série Mad Men (2009), e, mais recentemente, The Crown", como George VI (2016).

"Dan Simmons adicionou uma fábula sobrenatural e, essencialmente, a ideia da queda do imperialismo. Os britânicos achavam que podiam exportar o seu modo de vida para lugares não lhes eram familiares. Há um choque de culturas, e também um desrespeito pela natureza por homens de ciência. Eles não sabem como lidar com isso", considera o ator, a quem coube o papel de Francis Crozier, o oficial sensato da expedição, que aconselha prudência a lidar com os elementos contra as decisões mal-informadas do comandante da expedição John Franklin e arrogância de James Fitzjames.

"De todas as personagens, a minha é a que tem mais experiência na exploração polar, mas é subestimado porque não tem o passado certo, é irlandês, o que lhe provoca ressentimento", diz Harris, que se preparou lendo os muitos livros escritos sobre o assunto e as cartas que Crozier deixou e que "retratam bem o seu estado de espírito antes de partir". Incluindo a melancolia que o caracteriza nesta série gravada durante sete meses entre estúdios que recriaram os barcos em Budapeste e os exteriores da Croácia.

Fitzjames é o oposto de Crozier, concorda Tobias Menzies, 44 anos. "Há uma arrogância nele e na expedição ela mesma. Os britânicos tinham um genuíno sentimento de superioridade na época, acreditavam serem um grande povo, escolhidos para irem a estes lugares em missões aventureiras para conquistar e derrotar. James Fitzjames é produto de tudo isto". Mas, mais à frente, veremos que não é apenas isso, diz o ator de The Outlander (2014) e A Guerra dos Tronos (2013).

É uma série inusual por só ter uma personagem feminina, Lady Silence, uma inuite, entre dezenas de homens. "É antiquada, dado o número de homens brancos", concorda Menzies. "Mas se vamos contar esta história é necessário, porque aqueles barcos não tinham mulheres a bordo e eram inteiramente compostos por marinheiros ingleses".

A jornalista viajou a convite do canal AMC.

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