The Smiths: 30 anos depois ainda marcam gerações

Assinalam-se hoje três décadas desde que o grupo britânico se estreou com o "single" "Hand in Glove".
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A 13 de maio de 1983 os Smiths estreavam-se com o single Hand in Glove. A mesma canção serviu para encerrar o concerto de 12 de dezembro de 1986 na Brixton Academy, em Londres, quando o grupo se juntou em palco pela última vez. Foi uma história breve na cultura pop - quatro álbuns de originais e mais de uma dezena de singles -, mas das mais marcantes e influentes das últimas décadas, gerando até aos dias de hoje um fenómeno de culto invulgar.

Pedro Adão e Silva, comentador político, é um dos milhares cuja vida mudou com a música dos Smiths. "Lembro-me perfeitamente de sair o álbum The Queen is Dead", começa por contar. "Foi uma espécie de epifania. Foi um momento em que tudo mudou para mim. A partir de então passei a ouvir música de outra forma e, por isso, os Smiths são mesmo a banda mais importante para mim", acrescenta.

Quando apareceram, há 30 anos, os Smiths foram quase uma reação à escola pós-punk e às eletrónicas que dominavam então o panorama pop/rock. As suas referências passavam mais pelas guitarras dos anos 60 (e o nome dos Kinks surge na memória). Mas destacaram-se desde logo pela atitude, pela voz e, em especial, pelas palavras cantadas por Morrissey. Em conversa com o DN, Rui Reininho, dos GNR, chamou-lhe "o poeta da desilusão amorosa".

"Considero o Morrissey um tio", diz o cantor. "Gosto muito da criação daquela personagem, não é nada bobo. E na altura os Smiths foram um grupo muito diferente. O rock estava então a tornar-se "dinossáurico" e eles eram muito diferentes de todos, tinham um pouco mais de conteúdo. Aliás, tinham histórias para contar. E apesar de o Morrissey na altura não se vangloriar da cultura que tinha, havia ali referências ao Oscar Wilde, ao Byron... No fundo ele era alguém que lia livros, o que é cada vez mais raro", comenta.

Aliás, Pedro Adão e Silva confessa que na altura leu "tudo o que havia para ler de Oscar Wilde, [John] Keats ou de [W. B.] Yeats" graças às palavras de Morrissey.

Os versos do cantor, marcados pela desilusão amorosa ou pelos problemas da transição para a idade adulta, aliados à guitarra de Johnny Marr (e também à excelente secção rítimica formada por Andy Rourke e Mike Joyce), possibilitaram o fenómeno de culto que se criou à volta do grupo. "Eles tinham a capacidade de criar músicas que pareciam ser feitas especificamente para quem os está a ouvir. Existe uma relação de intimidade e até confessional intensa com a banda que não é propriamente partilhada", afirma Pedro Adão e Silva.

O músico David Fonseca vai ao encontro da mesma ideia: "Tinha 20 e poucos anos quando os comecei a ouvir e as canções deles eram de uma candura dramática que serviam como descrição automática do que na altura estava a viver."

Já em 1987, pouco depois da banda anunciar o fim, o britânico Simon Reynolds escrevia no Melody Maker que Morrissey "tem uma compreensão aguda da mecânica da obsessão dos fãs. Ele quer usar o mecanismo de idolatria para introduzir algum tipo de inteligência e diferença na pop".

Johnny Marr também foi uma peça vital no grupo. "Como músico sempre estive muito atento à guitarra de Johnny Marr. É complexa e original", lembra Rui Maia (X--Wife/Mirror People). Também David Fonseca destaca Marr: "É absurdo como é que ele fazia aquilo, tão melodicamente complexo e simples ao mesmo tempo."

Depois de Hand in Glove, seguiu-se uma mão-cheia de singles e quatro álbuns, o último, Strangeways, Here We Come (1987), já editado depois da separação do grupo. Nunca mais se reuniram, mas deixaram uma marca que se prolonga por décadas.

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