Testosterona

A testosterona é a hormona produzida por testículos, ovários e glândulas supra-renais, por estimulação das gonadotrofinas, hormonas produzidas pela hipófise. Os homens são quem produz maiores quantidades de testosterona, pois esta hormona é responsável pelas habituais características físicas e comportamentais masculinas, pelo desenvolvimento dos órgãos sexuais masculinos e ajuda à síntese das proteínas.
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Nos homens, os fármacos com testosterona como princípio activo têm como propósito tratar o hipogonadismo, ou seja, diminuição da produção daquela hormona, que provoca cansaço, perda de massa muscular, redução da libido sexual, disfunção eréctil, diminuição dos pelos corporais, atrofia dos testículos, distúrbios na produção de espermatozóides, infertilidade ou esterilidade, atrofia da próstata e vesículas, anemia, diminuição da densidade mineral óssea, irritabilidade, anemia e perda de memória.

Se nos homens a testosterona pode suprimir insuficências nos testículos ou na hipófise, e ainda como terapia de reposição para jovens com puberdade masculina retardada, já nas mulheres os fármacos com esta hormona são usados no tratamento de cancros da mama inoperáveis.

A testosterona tem como principal efeito o desenvolvimento dos músculos e da força muscular. Por isso a sua versão sintética tem sido testada como terapia para doentes com SIDA. Também por isso tornou-se num dos dopantes mais consumidos no desporto, até porque está disponível no mercado, legal e ilegal, a preços baixos e sob várias formas. Além do crescimento muscular, a testosterona também tem sido usada para facilitar a recuperação física entre grandes esforços: foi este o motivo que terá levado o ciclista norte-americano Floyd Landis a usar este dopante durante a Volta à França de 2006 e a registar um controlo positivo, perdendo o título para o espanhol Oscar Pereiro.

Tal como os outros anabolizantes, a testosterona sintética causa inúmeros efeitos secundários, mais ainda quando é usada regularmente ou em conjugação com outros dopantes com efeito anabolizante. A lista é longa e variada consoante o sexo do consumidor: problemas comportamentais (dependência, depressão, agressividade, paranóia), cardiovasculares (trombos vasculares, cardiomiopatia, enfarte do miocárdio), dermatológicos (acne, pelo oleosa e calvície), paragem no crescimento dos adolescentes.

Nos homens causa atrofio dos órgãos sexuais, hipertrofia da próstata, obstrução urinária e diminuição da produção da testosterona natural, como resposta ao excesso de testosterona no corpo, o que agrava ainda mais os problemas anteriores. Nas mulheres regista-se a masculinização da voz, atrofia mamária, hipertrofia do clitóris e interrupção do ciclo mentrual.

Os laboratórios anti-doping usam duas técnicas para detectar o uso deste dopante. A mais antiga baseia-se no rácio T/E, a comparação entre testosterona e um dos seus metabólitos biológicos, a epitestosterona, que actua como anti-andrógeno em alguns tecidos. Normalmente, num ser humano os rácios variam entre 1/1 e 2/1, mas há factores que podem levar atletas e terem níveis superiores. Por isso, durante muito tempo as autoridades anti-doping consideraram um limite máximo de 6/1 suficiente para abarcar possíveis oscilações nos níveis. Acima desse valor as análises eram consideradas positivas. Recentemente, com base em estudos científicos mais recentes, a Agência Mundial Antidopagem reduziu essa taxa para 4/1.

Mesmo assim, essa técnica tem-se revelado insuficiente para detectar casos em que a dopagem é feita em pequenas doses (adesivos ou gel, por exemplo), com o intuito de recuperar de esforços físicos, pois os atletas com valores normais de testosterona ainda têm hipótese de manipularem a condição física sem ultrapassarem o valor 4/1.

O método mais fiável para detectar doping com esta hormona é o IRMS (espectrometria de massa de razão isotópica), que permite distinguir a testosterona sintética da natural através da diferença entre os átomos de carbono que resultam do processamento da hormona natural e os resultantes do uso da versão sintética.

Caso um atleta registe níveis elevados mas nenhuma das técnicas anteriores determine a origem da testosterona, a Agência Mundial Antidopagem determina que a organização antidopagem relevante deverá conduzir uma investigação complementar, através da revisão de resultados de testes anteriores ou da realização de testes subsequentes.

Se nenhuma metodologia determinar a origem da testosterona, os regulamentos mais recentes obrigam os laboratórios a conduzirem “investigações complementares, através da revisão de resultados de testes anteriores ou da realização de testes subsequentes, de forma a determinar se o resultado é atribuível a uma condição patológica ou fisiológica, ou se resultou da utilização de uma substância proibida.”

A testosterona começou a ser usada como dopante nos sistemas de doping estatais existentes no antigo Bloco de Leste, nomeadamente na ex-República Democrática Alemã (RDA), que também criou formas de ludibriar os ainda ecipientes controlos realizados nas competições internacionais, como por exemplo a administração de propionato de epitestosterona, um composto sem valor comercial que era produzido pela farmacêutica do regime, a Jenapharm. O sucesso desportivo dos países comunistas levou os ocidentais a responderam da mesma forma: não existiam programas de doping oficiais, mas as autoridades fechavam os olhos ao que se passava nas suas federações desportivas.

A testosterona perdeu popularidade junto dos atletas que podiam comprar os dopantes indetectáveis, como a hormona de crescimento, mas continuou sempre a ser o dopante dos pobres, por ser mais barata. E nos últimos anos regressou à lista de dopantes da moda, depois de a indústria farmacêutica ter desenvolvido novas formas de administração da testosterona, que não injecções. As soluções dérmicas, em gel ou adesivo, passaram a permitir aos atletas usarem a testosterona em doses baixas, que escapam ao rácio 4/1 (por questões de custos, vários organismos só usam a IRMS em casos em que a taxa máxima é ultrapassada), essencialmente para recuperarem de esforços físicos intensos.

Além disso, esta hormona continua a fazer parte dos protocolos de dopagem que têm sido descobertos pelas autoridades, como no caso BALCO (Bay Area Laboratory Co-Operative), nos EUA, ou na Operação Puerto, em Espanha.

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