O Presidente da República sinalizou em meados do ano as eleições de 2017. "Depois das autárquicas veremos o que se passa", disse Marcelo para garantir a estabilidade do sistema político até ao teste eleitoral. Mas será que a ida às urnas em outubro para escolher os presidentes de 308 municípios irá mesmo mudar peças no xadrez político nacional?.A praticamente um ano das autárquicas, os analistas políticos ouvidos pelo DN mostram-se convictos de que não serão os resultados saídos das eleições a gerar um clima de instabilidade no país nem a provocar a rutura no acordo entre as esquerdas. Pedro Adão e Silva prevê uma "alteração marginal" do mapa autárquico que resultou das eleições de 2013: PS conquistou 149 municípios; PSD ficou-se pelos 106 (20 dos quais em coligação com o CDS); a CDU (PCP+PEV) conseguiu 34; o CDS 5; e os grupos de cidadãos, vulgo candidaturas independentes, arrecadaram a presidência de 13 câmaras..O comentador político sublinha que há até um "paradoxo" neste primeiro teste eleitoral à geringonça: "Por estranho que pareça, um mau resultado para o PS, com alguma perda de câmaras para o PCP, até pode beneficiar o governo, dar-lhe mais robustez." O politólogo José Adelino Maltez acredita que em qualquer circunstância PS, PCP e BE "já aprenderam que não podem cometer o erro" de se atraiçoarem, sob pena de serem penalizados..Marques Mendes admite, contudo, que "residualmente" as eleições autárquicas poderão ter uma leitura nacional, porque ocorrem a meio do mandato, mas não irão contribuir para nenhuma crise política. O comentador político e conselheiro de Estado só prevê um eventual cenário de agitação se o PS perder um elevado número de câmaras ou o PCP sentir a sua influência autárquica diminuir. "Isso teria uma leitura nacional, a de desgaste provocado pelo acordo de governação e de penalização por parte do eleitorado", afirma, e conclui: "Mas não vai acontecer." O BE, diz, não entra nesta equação porque é um partido que não tem expressão autárquica. Mendes suspeita - embora seja desmentido por ambos os partidos - que há um "gentlemen"s agreement" entre PS e PCP para não se guerrearem muito nas autárquicas, principalmente a sul do país..António Costa Pinto também considera que as eleições autárquicas são cada vez mais dominadas pelas agendas locais. "Salvo um terramoto, será muito difícil extrapolar os resultados para o plano nacional. O politólogo diz que só "fatores externos, como uma eventual degradação das condições económicas a nível externo, poderão contaminar estar eleições". E lembra que a grande condicionante interna para os partidos são os movimentos de cidadãos que têm vindo a crescer e a ter sucesso. Fator a que José Adelino Maltez acrescenta o "regresso dos dinossauros" autárquicos, o que dá uma margem de imprevisibilidade aos resultados finais das autárquicas de 2017..À direita, Marques Mendes vaticina que o CDS irá manter quatro ou cinco câmaras e só se Assunção Cristas tiver um muito mau resultado em Lisboa é que o partido poderá sofrer alguma convulsão. Mas, diz, "a líder do CDS até pode ter um resultado melhor do que o conseguido por Paulo Portas". Já para Adelino Maltez, "a coragem" de Assunção ao dar a cara na corrida à principal câmara "ainda rende alguma coisa na política"..Marques Mendes também não vê margem para que o PSD tenha ainda pior resultado do que em 2013. "Passos Coelho até pode melhorar o resultado e ganhar mais três ou quatro câmaras.".Mas todos concordam que será sobre o PSD que vão recair todas as atenções, e não tanto pelo resultado eleitoral. "Pode haver um problema de crise de liderança no PSD porque já há mal-estar em relação a Pedro Passos Coelho e o resultado que vier a obter não chegar para mudar esse sentimento." Os sinais que as sondagens forem dando também podem levar o partido a tentar "catapultar a mudança". "Só havia uma hipótese de Passos blindar esta situação, era a de ter um grande resultado autárquico. Mas esse cenário não é provável", remata Marques Mendes.