Terrorista, americano, com 2 armas legais. Debate está reaberto

FBI investiga se Omar Mateen tinha mesmo ligações a grupos terroristas fora do país. Obama fala em "extremismo nacional"
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No passado dia 4, Omar Mateen comprou uma pistola Sig Sauer .221 numa loja de armas perto de casa. No dia seguinte, voltou à mesma loja para comprar uma Glock 17. E cinco dias mais tarde foi lá de novo, comprar umas revistas sobre armas. Tudo legal. O segurança, de 29 anos, tinha licença de porte de arma. Mas a loja tinha por lei de notificar o FBI das compras que fizera para este investigar o seu passado. A agência federal americana já duas vezes antes interrogara Mateen, mas o seu nome fora retirado em 2014 da lista dos suspeitos de ligações ao terrorismo por falta de provas. A verdade é que no sábado, usando a Glock e uma espingarda semiautomática AR-15 , o americano de origem afegã entrou numa discoteca gay de Orlando e matou 49 pessoas antes de ser abatido pela polícia.

Um balanço que podia ter sido mais pesado caso Mateen tivesse conseguido comprar na mesma loja um sofisticado colete à prova de bala, como os usados pelos militares e por unidades de elite da polícia (body armor, em inglês).

Aquele que é o mais mortífero tiroteio de sempre nos EUA não podia deixar de reabrir o debate sobre a posse de armas. Isto num país onde há 270 milhões de armas para 330 milhões de habitantes e o direito a andar armado está inscrito na Constituição.

Ontem, o presidente Barack Obama reafirmou que os EUA têm de pensar sobre os riscos que implica a atual lei que permite um acesso fácil às armas. Depois de um tiroteio como este - fosse na universidade de Virginia Tech em 2007 ou na escola de Sandy Hook em 2012 - se surgem vozes a pedir mais restrições, nunca falta quem defenda mais armas para que os americanos se possam defender. "Temos de ir atrás destas organizações terroristas e atingi-las com força. Mas também temos de garantir que não é fácil para alguém que decida fazer mal às pessoas obterem armas facilmente", sublinhou o presidente.

Obama admitiu ser difícil garantir que as autoridades são alertadas quando alguém compra uma arma nos EUA. E mais difícil ainda conseguir que o impeçam. "É uma loucura. É um problema. Precisamos de refletir sobre isto", disse.

Em conferência de imprensa partir da Casa Branca, o presidente explicou que apesar de Mateen ter afirmado a sua fidelidade ao Estado Islâmico numa chamada para o 911 (o 112 americano) e de o grupo islamita ter reivindicado o ataque, "não temos provas de que houvesse uma conspiração mais alargada", referindo-se a este caso como tratando-se de "extremismo nacional". Mas Obama admitiu que Mateen poderá ter-se inspirado "em vários informações extremistas disseminadas através da Internet".

Um terrorista americano, portanto - filho de afegãos, Mateen nasceu em Nova Iorque antes de se mudar para a Florida ainda criança - que agiu com armas compradas legalmente. O FBI está a investigar se de facto havia uma ligação entre o atirador da discoteca Pulse e grupos terroristas fora dos EUA. Quanto ao facto de Mateen já ter sido ouvido pelo FBI antes mas não estar na lista dos indivíduos que a agência monitoriza, o diretor, James Comey, explicou que não havia motivos de suspeita. E acrescentou: "Andamos à procura de agulhas num palheiro do tamanho dos EUA enquanto tentamos perceber que palha se pode transformar em agulha".

O chefe da polícia de Orlando, John Mina, veio ontem, por seu lado, revelar mais pormenores sobre o ataque, explicando que Mateen se barricou na casa de banho com alguns reféns, tendo estado ao telefone com os negociadores antes de a equipa SWAT lançara o assalto à discoteca às 5:00. Testemunhas no local descreveram o atirador como estando calmo e tendo rido enquanto disparava.

Hillary vs. Trump

Em plena campanha para as presidenciais de 8 de novembro, o ataque de Orlando veio colocar o terrorismo e as armas na agenda dos candidatos. A mais que provável nomeada democrata, Hillary Clinton, alertou na NBC para a dificuldade de equilibrar o reforço da segurança com a necessidade de não demonizar os muçulmanos. A ex-primeira dama apelou ainda a mais restrições no acesso às armas.

Hillary garantiu ainda que não se pode "declarar guerra a toda uma religião", criticando no entanto o "jihadismo radical ou islamismo radical", reforçando o uso destas expressões depois de ter sido acusada por Donald Trump de estar com medo de usar essas palavras. O candidato republicano, apoiado pela NRA, o poderoso lóbi das armas, esteve no centro da polémica depois de ter agradecido aos seguidores que lhe deram os parabéns no Twitter por "estar certo quanto ao "terrorismo islâmico radical". Ontem, na CNN e FOX News, o milionário voltou a defender banir os muçulmanos de entrar nos EUA.

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