Terra prometida 'rastafari' celebra 60 anos de Bob Marley

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A sua efígie vê-se em T-shirts por esse mundo fora. Os seus discos continuam a conquistar novos admiradores e vendem-se em quantidade pelos mais diversos mercados mundiais. A sua memória transcende a própria história do reggae, valendo também como ícone político e social. Bob Marley, falecido em 1981 após longa luta contra o cancro, completaria hoje 60 anos. O seu nome está inscrito no firmamento das lendas criadas pela música popular no século XX, podendo ser recordado, entre muitos feitos, por ter representado a primeira estrela musical planetária nascida num país do Terceiro Mundo.

Apesar de ter nascido a 6 de Fevereiro de 1945 na vila de Nine Mile, na Jamaica, as celebrações daquele que, caso fosse vivo, seria o seu sexagésimo aniversário têm hoje lugar em Addis Abeba, na Etiópia, a capital espiritual dos rastafari (fé que conheceu em Bob Marley um dos seus mais importantes embaixadores mundiais). Milhares de pessoas são hoje esperadas na Praça Meskal, para assistir a um concerto evocativo do músico, que se prevê venha a durar dez horas, organizado pela sua viúva, Rita Marley, e pela Fundação Bob Marley. Angelique Kidjo, Youssou N'Dour, Shaggy, Baaba Maal, India.arie e a Marley Family são alguns dos nomes a participar no concerto baptizado com o nome Africa Unite, cujos lucros reverterão a favor de auxílio humanitário a famílias na Etiópia. O concerto abre um ano de celebrações da memória musical e icónica de Bob Marley, cuja programação prevê, além de espectáculos musicais, momentos de oração, festivais de cinema e debates. Espera-se perto de meio milhão de espectadores nas diversas celebrações a realizar, muitas delas centradas em Shashemene, localidade de referência para o culto rastafari desde que lhes foi atribuída para esse efeito pelo imperador Hailé Selassié, em 1963.

Com sede espiritual etíope, a celebração da longevidade do legado de Bob Marley não deixa todavia de incomodar a sua Jamaica natal. De resto, causou forte polémica nos meios populares e intelectuais de Kingston (Jamaica) a alegada pretensão de Rita Marley de transladar os restos mortais do marido para a Etiópia. A imprensa jamaicana recebeu mal esta ideia, afirmando que estaria a ser roubada a herança nacional da ilha, num sem-fim de fortíssimos artigos de opinião que levaram a viúva a voltar atrás com a sua decisão.

a música. Bob Marley foi a mais importante e global figura alguma vez nascida do reggae. Apesar de antes de si outros jamaicanos terem levado a música da sua ilha a outras paragens, Marley foi o primeiro a revelar o reggae aos quatro cantos do mundo, transformando um fenómeno cultural local num caso de sucesso mainstream. Bob Marley deu voz, nas suas canções, à luta do dia-a-dia dos jamaicanos, bem como a um sentido de espiritualidade que acabou por se revelar a fonte da sua força enquanto ícone. Canções de fé, devoção e revolução mantêm-se hoje na ordem do dia para legiões de herdeiros e admiradores que nele reconhecem uma das forças maiores e mais inspiradoras da música popular.

As origens musicais de Bob Marley remontam aos anos 60 quando, ainda adolescente, deixou a sua casa rural para procurar um lugar no mundo da música da capital, Kingston. Estreou-se em 1962 com o single Judge Not, passando então por grupos como os The Teenagers (onde figurava também Peter Tosh) e os Wailers (que mais tarde, ao assumir protagonismo vocal, se transformariam na sua banda de suporte).

A fé rastafari e um sentido de intervenção política (junto do marxista People's National Party) tomaram conta de uma música que evoluiu ao longo da década de 60, descoberta em início de 7o pelo visionário Chris Blackwell, patrão da Island Records.

A estreia pela Island faz-se em 1973 com o marcante álbum Catch A Fire, o seu primeiro disco a ser editado fora da Jamaica. O sucessor, Burnin', incluía a versão original de I Shot The Sheriff, que se transformaria num sucesso planetário numa regravação de Eric Clapton em 1974. O seu primeiro sucesso nas tabelas de vendas chegaria pouco depois, em 1975, com No Woman No Cry.

A fama entretanto conquistada fora da Jamaica transformava Bob Marley numa figura de proporções místicas. Poeta, profeta, foi tido como perigoso junto de certas facções conservadoras locais. E em Dezembro de 1976 sofria uma tentativa de assassínio. Em 1980, já sob estatuto global, descobriu que sofria de cancro, luta que o derrotou em Maio de 1981. Tinha 36 anos.

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