Teremos uma segunda "caranguejola"?

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O país vive novamente tempos conturbados. Não como em França, onde os canhões de água dispersam multidões; não como em Espanha, onde as manifestações terminam ao som de cânticos fascistas dos tempos de Franco, mas vive-se, de facto, um período agitado.

E não é só pela Europa que a temperatura política e social anda quente. A Argentina foi a votos e a vitória pendeu com clareza para o candidato Javeir Milei, economista de profissão e defensor de políticas ultraliberais.

Saliente-se que apesar de hoje ser feriado na Argentina, tal não impediu que se verificasse uma estrondosa participação eleitoral (Portugal estará numa situação semelhante em termos de datas para as Eleições Europeias em junho próximo).

Mesmo registando Portugal um clima político mais ameno do que o dos "nuestros hermanos", a verdade é que, à nossa maneira, não deixa de estar algo quente, senão veja-se: após a queda do governo e da convocação de eleições antecipadas para março, os partidos já colocaram em marcha as máquinas para conquistar o coração e o voto dos eleitores.

Com tanto congresso em andamento, em novembro e janeiro, e com o Natal e o Réveillon à mistura, não faltarão episódios até março. E não serão por certo exclusivos da magistratura, cujas gaffes já foram objeto de gozação nacional em programas de sátira ao domingo à noite, competindo lado a lado com os políticos.

Ponham-se de parte esses momentos para outra ocasião e concentrem-se as atenções num futuro problema: os Açores.

O anunciado chumbo ao plano e orçamento regional para 2024, do governo regional minoritário, inicialmente legitimado através da coligação pós-eleitoral entre o PSD e o Chega, implicará necessariamente a dissolução da Assembleia Regional e a convocação de eleições Regionais.

Este será o primeiro grande falhanço da "caranguejola" de direita, uma vez que o IL e Chega já anunciaram o voto contra os documentos apresentados pelo governo liderado pelo PSD, mas que conta também com o apoio do CDS e do PPM.

Mantendo Belém a coerência, resta apenas uma solução: a convocação de eleições regionais, mesmo que antes se pudesse ter a apresentação de um segundo documento. Todavia, ao contrário do que foi ontem propagado por um comentador, esse não é um imperativo legal.

Belém poderia sempre decidir de forma diferente do que se passou no Continente. Contudo, no arquipélago os entendimentos que se verificavam à direita aquando a constituição da "caranguejola" já não se encontram reunidos. Assim, o parlamento regional deverá ser dissolvido e a palavra devolvida aos eleitores.

Esperar-se-ão nessa altura as mesmas reações efusivas por parte de todos aqueles que nos últimos dias se regozijaram quando o Presidente dissolveu o parlamento e convocou eleições no Continente.

Aliás, o momento é crucial e com o sentido de oportunidade que se reconhece a Sua Exa., o Presidente da República, não deixará passar a oportunidade de "ordenar" novas eleições regionais e de as convocar, provavelmente, para a mesma data das eleições Legislativas de dia 10 de março de 2024.

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