Teremos um museu de arte moderna em permanência
Desenhos a aguarela de Amadeo de Souza-Cardoso e vários quadros da sua autoria. Fotografias de António Sena da Silva e obras de Mariana Gomes e Sara Bichão adquiridas no último ano. Uma instalação de Rui Toscano. Um conjunto de obras que um dia foram mostradas no Bristol Clube, reduto modernista da Lisboa dos anos 1920. Estas e outras obras, num total de 94, renovam a exposição permanente da Coleção Moderna do Museu Gulbenkian.
Será assim três vezes por ano, a partir de 2018, anunciou ontem a diretora, Penelope Curtis, num encontro com jornalistas. Coleção do Fundador e Coleção Moderna, diferentes, mas com igual importância, serão mostradas em permanência, mas com alterações. Durante o último ano tivemos um projeto-piloto, Portugal em Flagrante que se desvaneceu lentamente e agora temos um Museu da Coleção Moderna, notou a diretora, britânica, à frente dos destinos da instituição desde 2015. As pessoas não estão habituadas a ver este lugar como museu, mas queremos habituá-las a voltar todas as temporadas. Numa frase: Teremos um museu de arte moderna em permanência que vamos mudar todas as temporadas.
O Centro de Arte Moderna nunca foi um museu, agora é, resume. Herdei a intenção do conselho de administração de juntar as coleções num museu. Estamos a tentar usar a coleção de forma responsável como num museu, o que é preciso manter e o que é preciso mudar, o que as pessoas querem ver e as coisas novas que lhes possamos apresentar. O facto de esta coleção começar em 1900, mas ser muito forte dos anos 1960 a 1980, faz que muitos artistas ainda estejam vivos. Eles são a nossa principal audiência e trabalhar com eles mais de perto, mostrar-lhes o que estamos a fazer, que já não é uma kunsthalle mas um museu. Um museu tem de estar vivo, não pode ficar parado.
Por esse motivo, ontem, a diretora entregou um cartão de livre trânsito pelo Museu Gulbenkian a cem artistas representados na coleção. Um longo trabalho de atualização da nossa mailing list. Foi surpreendente o número de artistas vivos da coleção. São 430.
É uma forma de lhes mostrarmos que temos uma coleção de arte que representa a arte portuguesa e que queremos que sejam parte da audiência, e achamos que eles serão bons defensores do museu e vão trazer uma audiência mais vasta.
Nos bastidores, promete Penelope Curtis, os curadores trabalham novos temas e núcleos, novas abordagens. Procuraremos trazer artistas que podem ter sido negligenciados, do início do século XX, como Mily Possoz, nota, referindo-se à pintora da primeira geração de modernistas portugueses cujo trabalho pode agora ser visto no piso -1 do museu, antigo Centro de Arte Moderna.
Pela primeira vez teremos um guia do museu, com as duas coleções e todos os curadores envolvidos. É um guia do local. Os edifícios estarem separados foi um problema, e tentamos mostrar que não é, porque há um jardim lindo, que muitos turistas não conhecem, mas de que podem desfrutar. O livro começa na Coleção do Fundador, passa pelas imagens do jardim e termina na Coleção Moderna, com as janelas abertas para a natureza. Um diálogo entre natureza e arte que esteve sempre lá, segundo a investigação da diretora nos arquivos da Fundação.
O Museu Gulbenkian manterá o ritmo de nove exposições por ano. Duas grandes, de inverno e verão, de longa duração. Do Outro Lado do Espelho cumpre atualmente esse papel. Pós-Pop: Fora do Lugar-Comum e é a exposição em preparação para abril de 2018, na galeria principal do edifício sede. Em outubro, será a vez de A Pose. Escultura Francesa antes e depois de Rodin. Ao longo do ano, três Conversas, na galeria de exposições temporárias (atualmente, Ana Hatherly e o Barroco. Num Jardim Feito de Tinta), e a sala de projetos acolhe quatro artistas por ano. Olho Zoomórfico, de Mariana Silva, em torno da extinção de espécies animais e de como eles são representados no seu habitat natural, abre hoje ao público neste espaço.
Na Coleção de Arte Moderna, o próximo momento de mudança acontece em março, na área de escultura.