«Terei sido inconveniente e arrogante, mas neste momento sou um gajo normal»

A uma semana do arranque da campanha para as eleições presidenciais, uma conversa com o candidato Vieira - que pela terceira vez não conseguiu reunir as assinaturas obrigatórias para ir a votos - sobre música, pintura, política. E sobre si próprio. Uma rara entrevista séria com o músico pintor e performer Manuel João Vieira, o homem por detrás das personagens.
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Enquanto bebe um chá verde (aprendeu recentemente que a água não mata) vai contando: que gostou muito de fazer tudo o que fez até ao presente e que se sente contente com o resultado. Mas também que se esteve nas tintas para a carreira nas artes e que hoje, aos 53 anos, o lamenta profundamente. Que foi indolente e intolerante, que deu tiros nos pés, que pagou todos os preços. Mas é a vida, diz, e pensa nela de vez em quando. Como agora. O encontro foi no bairro de Campo de Ourique, em Lisboa, onde vive. Manuel João Vieira está em modo Manuel João Vieira. Dentro do possível, claro.

_Nascido em Lisboa, vive em Campo de Ourique há mais de cinquenta anos. Quais são as memórias mais antigas que tem do bairro?

As imagens da minha casa, tinha eu talvez uns 3 anos. Lembro-me de ir com a minha avó à igreja, de ir comprar uns maços de cigarros para a minha avó com o meu primo, lembro-me de jogar ao berlinde. Do jardim-infantil, lembro-me das festas, das batas e dos bibes.

_Fez aqui a escola primária?

No Liceu Francês, na secção francesa. Mas só porque tinha uma tia - a minha tia Manelinha - que era lá professora.

_Era um miúdo «cabeça no ar»?

Era sobretudo bastante solitário. Tinha um amigo ou dois e um mundo muito próprio.

Com um primo que vivia comigo, fazia coisas como esburacar as paredes de casa. Achava que elas guardavam um tesouro. E andava sempre à bulha.

_Filho de pintor [João Rodrigues Vieira, 1934-2009], ainda recorda o cheiro a tinta?

Os meus pais separaram-se quando eu tinha menos de 2 anos. Não me recordo.

_É considerado um dos melhores desenhadores portugueses, o melhor para muitos. Com que idade começou a desenhar?

Acho que temos uma história de excelentes desenhadores em Portugal, como o Fernando Brito, o Pedro Proença ou o Jorge Queiroz. No meu caso, desenhar a tinta-da-china é escrever uma espécie de solo de jazz ou de discurso indelével. Bem, posso sempre rasgá-lo e metê-lo no caixote. Respondendo à pergunta: muito, muito, cedo. Mas não era o único. Tinha colegas que também desenhavam. Eles carros, eu desenhava cavaleiros.

Continue a ler a entrevista a Manuel João Vieira na Notícias Magazine.

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