Terceiros entre primeiros

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A discussão em torno da escolha de Rui Patrício para o Euro 2008 lançou uma reflexão sobre a importância do terceiro guarda-redes no seio da selecção. Há quem defenda que está a dar-se demasiada relevância a um tema que não a merece. Mas há também quem diga que a posição merece a mesma consideração que as outras vinte e duas.

Desde que Scolari chegou, porém, os defensores desta última tese perderam força. Com o brasileiro a escolha do terceiro guarda-redes deixou de ser uma questão apenas de mérito e passou a ser sobretudo uma aposta. O que esvaziou de importância a posição. Ser terceiro guarda- -redes actualmente é apenas um estágio para o futuro desse jogador como elemento da selecção nacional.

O selecciona- dor, recorde-se, introduziu o hábito de chamar sempre um guarda-redes dos sub-21. Moreira em 2004, Bruno Vale em 2006 (depois lesionou-se e cedeu o lugar a Paulo Santos) e, agora, Rui Patrício em 2008. O que procura preencher uma lacuna em relação ao passado: Portugal nunca teve um terceiro guarda-redes que viesse, mais tarde, a ser primeiro.

Nelson, actual guarda-redes do Estrela da Amadora, foi terceira opção no Mundial 2002. Depois disso nunca mais voltou à selecção. O que não o impede de apoiar a cem por cento a opção do seleccionador. "Scolari está a preparar o presente e a planear o futuro", diz. "Vai dar experiência a um jovem que no futuro pode tornar-se o titular da selecção."

Uma experiência que será marcante. "Tal como o Rui Patrício, também joguei na Taça UEFA e na Liga dos Campeões. Mas nada se compara ao Mundial ou ao Europeu. Estar na Coreia foi a maior experiência da minha vida. A envolvência, o companheirismo e a pressão são incomparáveis. Tenho a certeza de que Rui Patrício vai crescer imenso", sublinha.

Amizade com Baía para a vida

Mas qual é afinal o papel do terceiro guarda-redes? "Todos os guarda-redes vão para jogar", acrescenta Jorge Martins, terceira opção no Euro 84 e no Mundial 86. "Tal como os outros, pensava que era um dos escolhidos e que estava ali para mostrar que podia ser titular. Não fui e também não coloquei problemas. É esse o papel de todos."

O que Nélson subscreve. "Trabalhei muito para justificar a chamada e tenho a certeza de que se tivéssemos outros resultados na primeira fase, António Oliveira ter-me ia colocado em campo. Por outro lado, também temos um papel de companheirismo. Sabemos que estamos sujeitos à crítica e que o sucesso de um é o sucesso de todos", diz.

Por isso, convém treinar bem, obrigar o colega a ser melhor e apoiá-lo sempre. "No meu caso ficou definido que o titular seria o Vítor Baía. A partir daí teve todo o meu apoio. Aliás, antes do Mundial só conhecia o Vítor dos relvados, de ser adversário dele, e hoje é um dos meus melhores amigos no futebol. Construímos uma relação muito forte."

O zero de Jorge Martins

O caso de Jorge Martins é mais dramático. Foi terceira opção em França e no México, mas nunca somou uma internacionalização. Nem sequer num jogo particular. "Em 84, o Bento estava bem. Mas, em 86, ficou uma mágoa enorme. O Bento lesionou-se e pensava que eu iria ser o escolhido. O seleccionador [José Torres] optou pelo Vítor Damas, uma opção que nunca percebi. Fiquei triste, mas a vida é assim e nunca deixei que ninguém percebesse que estava chateado. Trabalhei sempre com alegria e nunca criei problemas", recorda. É um pouco esse o papel do terceiro guarda-redes. "O Scolari já mostrou que as apostas dele são o Ricardo e o Quim. O Rui Patrício vai para aprender, para crescer e para se introduzir no grupo", concluiu Jorge Martins. |

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