Terapia hormonal é causa direta do cancro da mama, diz estudo

É o tipo de cancro mais comum entre as mulheres portuguesas. E, na Europa, há cerca de seis milhões de mulheres que recorrem a tratamento de reposição hormonal.
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A reposição hormonal é apontada como um possível terapia para doentes com cancro da mama, se o seu tipo de cancro responder positivamente aos recetores hormonais. Mas pode trazer mais riscos do que vantagens. Um estudo publicado esta quinta-feira na revista científica The Lancetconclui que a terapêutica é, na verdade, uma causa direta do cancro. E o risco não desaparece caso as mulheres deixem de recorrer a esta terapia.

Várias vezes mencionada como MHT (Menopausal Hormone Therapy) - em português, THS (Terapia Hormonal de Substituição) -, a reposição hormonal na menopausa tem como objetivo minimizar as alterações decorrentes do hiperestrogenismo (provocado pelo excesso de hormonas sexuais) na pós-menopausa, bem como ajudar a corrigir possíveis disfunções menstruais antes e durante este período. O seu risco já era conhecido, mas vem ser reforçado por este estudo científico, que garante que o perigo é maior do que se pensava: tem, afinal, um impacto direto no aparecimento de cancro da mama.

O estudo analisou um mulheres envolvidas em 58 outros estudos, entre as quais 143 887 encontravam-se na menopausa e tinham cancro da mama invasivo, ao lado de outras 424 972 sem qualquer registo de cancro.

Segundo o mesmo, uma em cada 50 mulheres, de peso médio, que recorre à forma mais comum desta terapia (estrogénio e progestogénio combinados, todos os dias), durante pelo menos cinco anos, estão sob grande probabilidade de ter cancro da mama. Para este núcleo, o risco é de 8,3%.

As perspetivas são ligeiramente mais otimistas para as mulheres que apenas tomam progestogénio, intermitentemente, que correm um risco de 7,7%. Ainda menos para as que recorrem unicamente ao estrogénio, com um risco de 6,8%.

Mas a investigação mostra que os riscos vão além das mulheres sujeitas a este tratamento. Segundo o documento, 6,3% das mulheres com peso médio, nos países ocidentes, irão desenvolver cancro da mama ao longo dos 20 anos seguinte à meta dos seus 50 anos, mesmo sem qualquer terapia hormonal.

Sabe-se ainda que as mulheres com excesso de peso estão mais sujeitas a contrair cancro, pois a gordura produz estrogénio extra após a menopausa.

De acordo com o The Guardian, a Autoridade Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde (MHRA) do Reino Unido está a alertar todas as mulheres que recorreram à THS ou que a estejam a utilizar atualmente. "As mulheres devem estar cientes destas novas informações, para que possam ser considerados os riscos e benefícios do uso da THS", disse Sarah Branch, vice-diretora da divisão de monitorização e gestão de riscos da entidade.

"A menopausa pode ter efeitos colaterais desagradáveis e os produtos de THS podem ser eficazes para ajudar a aliviar os sintomas. Nenhum medicamento é completamente isento de riscos, mas é importante que as mulheres sejam capazes de tomar uma decisão informada sobre os riscos e benefícios que são apropriados para elas", acrescenta.

Assim sendo, a MHRA recomenda às mulheres que ainda assim necessitem desta terapia a recorrer a uma dose mais baixa e durante o menor período de tempo possível. Pois, de acordo com a investigação científica agora divulgada, os riscos não aumentam durante o primeiro ano de tratamento.

Apesar de o Royal College of General Practitioners, órgão profissional para clínicos gerais no Reino Unido, dizer que não é razão para alarme, reforça o conselho da entidade reguladora de medicamento para que as utilizadoras desta terapia a consultem um médico e a façam análises.

O jornal britânico escreve que há cerca de seis milhões de pessoas, em toda Europa, que recorrem a este tratamento, também regularmente associado ao cancro do ovário, embora em menor grau.

Em Portugal, o cancro da mama é o mais frequente entre as mulheres. Anualmente registam-se entre cinco a seis mil novos casos, dos quais 5% a 10% são de origem genética. É também a principal causa de morte entre os 35 e os 55 anos no sexo feminino.

Não se sabe ao certo quais as causas ligadas ao aparecimento deste cancro, embora especialistas enunciem o estilo de vida como um grande influenciador deste diagnóstico - alimentação, sedentarismo e obesidade, por exemplo.

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