Tempestade Theta é a 29.ª no Atlântico e está a caminho da Madeira

É o ano com mais tempestades desde 2005, quando o furacão Katrina devastou Nova Orleães. Previsões para a Madeira de vento e chuva forte, assim como agitação marítima, a partir de sábado.
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A temporada de furacões no Atlântico acaba de bater um novo recorde: 2020 é o ano com maior número de tempestades com direito a nome desde que há registo. A Theta é a 29.ª tempestade a formar-se e pode vir a caminho da Madeira. O anterior recorde, com 28 tempestades, tinha sido registado em 2005, ano em que o Katrina devastou Nova Orleães.

A Theta, uma tempestade subtropical, formou-se esta terça-feira no meio do Atlântico, segundo o Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC, na sigla em inglês). Os mesmos que, na previsão do seu percurso em direção a Leste, a colocam no eventual caminho da Madeira.

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Segundo o NHC, a Theta apresenta ventos de quase 110 quilómetros por hora, devendo perder força no final desta semana.

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) referiu às 19.00 desta terça-feira se situa "atualmente a 1385 km a sudoeste do arquipélago dos Açores e encontra-se em deslocamento para leste, devendo aproximar-se do arquipélago da Madeira a partir de sexta-feira".

Para já, as previsões são de vento forte com rajadas, precipitação forte com ocorrência de trovoada, e agitação marítima tanto na costa sul como na costa norte, devendo esta depressão subtropical chegar à região da Madeira a partir de sábado. "Não será tão grave como um furacão, porque é uma categoria abaixo", indicou ao DN a meteorologista Patrícia Gomes.

"No dia 15 de novembro deverá perder intensidade e permanecer sob a forma de depressão pós-tropical ou extratropical, centrada ligeiramente a norte ou a nordeste do arquipélago da Madeira", pode ler-se em nota publicada no IPMA.

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Apesar de já ter sido batido o recorde, o ano pode não ficar por aqui: a temporada, que começou a 1 de junho, só termina a 30 de novembro e há sempre a possibilidade de novas tempestades mesmo para lá dessa data. Tal como houve registo de duas antes do início oficial, a Arthur e a Bertha a 16 e 27 de maio, respetivamente. Nas Caraíbas já foi entretanto detetado outro sistema que pode dar lugar à tempestade Iota.

Das 29 tempestades com direito a nome este ano, 12 foram furacões e cinco alcançaram o nível 3 (de máximo 5) na escala de Saffir-Simpson, com ventos superiores a 180 quilómetros por hora.

Desde 1953 que as tempestades do Atlântico são batizadas, seguindo uma lista por ordem alfabética que começou por ser feita pelo Centro Nacional de Furacões dos EUA, mas que agora é mantida pela Organização Meteorológica Mundial.

A lista anual tem 21 nomes (não há com Q, U, X, Y e Z), alterando entre nomes masculinos e nomes femininos. No total, há seis listas, que vão rodando a cada seis anos, sendo que os nomes de tempestades que causaram danos catastróficos ou um elevando número de vítimas são retirados, não se repetindo mais.

No caso de mais tempestades ou furacões do que o número de letras, então recorre-se ao alfabeto grego. Isso já começou a acontecer em setembro e acaba de ser batizada a Theta, que é a 29.ª desta época. É um recorde, ultrapassando o ano de 2005, quando foram registadas 28.

O furacão Eta atingiu a América Central na semana passada, causando pelo menos 130 mortes, sendo um dos maiores furacões alguma vez registado em novembro. E continua a fazer estragos na Florida, no sul dos EUA. Especialistas dizem que a proporção de grandes furacões está a aumentar 8% a cada década.

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Para a formação das depressões que dão lugar às tempestades tropicais e depois aos furacões é preciso que a temperatura da superfície da água esteja acima do normal, assim como a temperatura do ar à superfície, assim como humidade e uma conjugação de ventos favoráveis.

"A variabilidade climática sempre existiu e vai continuar a existir. Acontece que, nesta última década, temos mais situações em que temos valores de temperatura da superfície da água e do ar acima do normal. Como temos mais vezes esta combinação destes fatores, é normal que aconteçam mais destes fenómenos", disse ao DN Ricardo Deus, responsável pela Divisão de Clima e Alterações Climáticas do IPMA.

Questionado sobre se esse aumento da temperatura das águas está relacionado com alterações climáticas, o especialista diz-se "tentado a dizer que sim", afinal a água está mais quente mais tempo, possibilitando que ocorram mais destes fenómenos.

Sobre a chegada a Portugal destes fenómenos, lembra que as anomalias dos valores de temperatura da água não se registam só na região do Atlântico onde se formam as tempestades. "Estas anomalias têm-se deslocado para norte. Havendo mais energia na superfície da água, apanham esta dinâmica e perdura mais tempo, chegando às nossas águas ainda com força", indicou Ricardo Deus.

"Estes fenómenos sempre aconteceram, sempre chegaram às nossas costas, provavelmente está é a acontecer com uma frequência mais elevada. Se estes fenómenos aconteciam duas ou três vezes numa vida, agora já presenciamos nestas últimas décadas vários fenómenos deste tipo a chegarem às nossas costas. Ainda com muita força e com efeito devastador", concluiu.

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