Temido, nome de estrela cadente

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Marta Temido continua a ser a mais popular entre os membros do governo. Nem a crise provocada pela falta de obstretas nos hospitais do SNS e a morte de um recém-nascido no Hospital das Caldas da Rainha lhe tiraram o lugar. A ministra da Saúde perde opiniões positivas (-2,2 p.p.) e ganha opiniões negativas (+2,2 p.p.), mas o pior para ela é que deixou de ser a governante preferida do PS.

Ainda não fez um ano, nem 10 meses sequer, desde o dia em que Temido foi ao congresso de Portimão receber das mãos do secretário-geral o seu cartão de militante socialista. No palco foi ovacionada de pé por todos os congressistas, satisfeitos porque o combate à pandemia lhes tinha dado uma estrela. Óptimo pin para pôr na lapela de um chefe de governo que já sabia da probabilidade de ter de ir a eleições mais cedo que tarde. O entusiasmo era tanto que, num partido onde não faltam candidatos à sucessão de Costa, até o próprio líder admitiu que ela dava uma boa sucessora. Estaria apenas a ser simpático, mas uma sondagem revelada um mês depois indicava que ela era a preferida dos eleitores socialistas para suceder a Costa se ele se fosse embora para a Europa.

Regressemos ao congresso e à enorme ovação da militante que subiu ao palco para fazer uma intervenção centrada na "urgência de reforço do Serviço Nacional de Saúde". Já passaram 10 meses, quase um ano, e os problemas são os mesmos do ano passado, até de anos anteriores, reconhece a própria ministra, que ocupa o lugar vai fazer quatro anos em Outubro. Se há coisa que o PS gosta pouco é de ovacionar os que depois deixam ficar mal o partido. Se há coisa que António Costa sabe fazer com grande mestria é segurar ministros impopulares, até que eles caiam como frutos maduros e fiquem a apodrecer politicamente longe dos holofotes que o iluminam. Gerir a queda de uma estrela exige menos esforço, mas é necessária sabedoria para que lhe sejam imputadas pessoalmente culpas que são, em primeira e última instâncias, de quem lidera o governo vai fazer sete anos.

Há um ano, fazia caminho o rumor de que a ministra pretendia deixar o cargo numa eventual remodelação que nunca chegou a acontecer. Em Março deste ano tomou posse o XXIII governo, Temido sucedeu a Temido, estava anunciada uma chuva de milhões vinda de Bruxelas e o prognóstico era de que a ministra que se sacrificou na gestão do SNS durante dois anos de pandemia iria agora brilhar a salvar o SNS. Afinal, ao mais pequeno abanão, a ministra treme e salta um deputado socialista a dizer que ela não tem condições para se manter no cargo.

António Costa não tem que "andar a seguir as opiniões de Sérgio Sousa Pinto", nem da restante oposição, mas sabe, como sabemos todos, que há erros no desenho do SNS que duram há décadas e vão demorar décadas a resolver. Aqui, como na Educação, não são as estrelas que resolvem o problema. O que é absolutamente necessário é que o PS e o PSD, os dois partidos que alternam no governo, se entendam sobre um caminho comum a percorrer. Até agora o que têm conseguido é uma destruição lenta mas eficaz de dois dos pilares das políticas sociais.


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