"Temática greco-romana está muito relacionada com a história de Portugal e Espanha"
Como diretor do Festival de Mérida, que diria a um português de Lisboa, do Porto ou do Algarve para ir até à Extremadura espanhola ver um espetáculo? O que torna especial o Festival de Teatro de Mérida?
Creio que o Festival de Teatro de Mérida é especial por causa da temática clássica, greco-latina, que está muito relacionada com a história de Espanha e de Portugal na época dos romanos e também dos gregos, duas culturas muito semelhantes. Essa temática faz que o Festival de Mérida seja único no Sul da Europa. Há espetáculos como Viriato, que este ano estará de novo em cena, que tem uma relação forte com Portugal. Teremos também cá Ana Moura, a fadista, que vai atuar com o cantor de flamenco Arcangel e o conjunto As Vozes Búlgaras.
A primeira peça de teatro que vão ter, já dia 5, é um clássico de Ésquilo. É uma oportunidade única para ver uma história tão antiga e num cenário também da antiguidade clássica?
Posso dizer que vai ser uma experiência única, pois vamos ter uma encenação inovadora embora respeitando o clássico.
Falou já de Viriato, que estará em cena no final de agosto. É uma obra contemporânea, pois também é tradição vossa desafiar os dramaturgos de hoje a escrever temas inspirados na antiguidade?
Insistimos muito para que os dramaturgos escrevam sobre a temática greco-romana. Porque não são assim tantos os textos que se conservaram da época grega e romana e assim evitamos estar, a cada ano, a repetir sempre as mesmas peças, como Antígona, Medeia ou Édipo. Procuramos autores que possam escrever sobre figuras importantes como Viriato, Marco Aurélio ou Aquiles, por exemplo.
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Existe um público fiel, que todos os anos vai a Mérida no verão por causa do festival?
Sou diretor do Festival de Mérida desde 2012. No ano anterior, tinha havido 52 mil espectadores. Em 2016 foram 163 mil. Conseguimos triplicar o número de espectadores.
E como explica esse sucesso?
Creio que soubemos programar espetáculos que interessam ao público, e rodeamo-nos de grandes atores e atrizes espanhóis do cinema, da televisão e do teatro que se estreiam no festival, ou já são habituais, e isso é muito atrativo. Outro facto, é que envolvemos a cidade de Mérida e a Extremadura no seu conjunto no festival.
Têm ideia se o público vem de zonas de Espanha fora da Extremadura e também de Portugal?
Sim, vêm de muitas partes de Espanha, de Portugal, também de França e Itália. Também da Grã--Bretanha, da Rússia e até da América Latina. Temos a sorte de atrair um público muito internacional.
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Além das peças de teatro, há espetáculos como o de Ana Moura. A fadista portuguesa é uma grande aposta desta edição?
É uma aposta importante sobretudo pela relação com Portugal. Mas é a pensar nos portugueses, nos espanhóis e no público internacional que fazemos esta experiência de juntar o fado com o flamenco e as Vozes Búlgaras.
Extremadura em julho e agosto costuma ser sinónimo de muito calor. Mas há um segredo neste Festival de Mérida para combater o Sol e que até ajuda à magia do espetáculo, não é?
Sim, as representações começam às 11 da noite, quando a temperatura já baixou e o Sol desapareceu. Assim, quem se senta nas pedras do teatro romano desfruta de uma agradável noite de verão com cultura. Ser de noite é uma maravilha, mas o mais importante é que se faz teatro num cenário incomparável, com dois mil anos de história.
Pode-se dizer que no fundo estamos a reviver a Mérida romana, capital da Lusitânia, onde já existia teatro?
Existia teatro, existia circo, existia no fundo muitas atividades ligadas à cultura romana.
Aconselha a quem vá a Mérida ver o Festival de Teatro que descubra o património arquitetónico e também o excelente Museu Romano?
Tentamos que o Festival use outros espaços da cidade, não só o Teatro Romano, como por exemplo o Templo de Diana. E além disso fazemos outro tipo de atividades. Colaboramos com o Museu Ro-mano e este ano temos uma exposição dedicada às mulheres nas artes cénicas na época romana.
O Festival de Mérida também se faz noutros pontos da Extremadura, como Medellin, onde existe um anfiteatro romano. É uma forma de ganhar mais público?
O Festival de Mérida, além do Teatro da cidade que lhe dá nome, tem outras três sedes: Medellin, o Teatro Romano de Regina e este ano na cidade romana de Cáparra, a norte de Cáceres, muito perto de Portugal. São mais possibilidades de uma experiência cultural única.
O festival começa com Oresteia, de Ésquilo, e termina com Viriato, de Florian Recio. Pelo meio, que destaca?
Há tanto para ver. Temos Calígula, de Albert Camus, Troianas, de Eurípides, a Bela Helena, Séneca, A Comédia das Mentiras. Tudo maravilhoso, podem acreditar.