Telemóveis, camisolas do Chelsea e bares: o país está em mudança
Durante décadas, no Butão não houve televisão nem semáforos e tinha uma cultura praticamente inalterada há séculos. Hoje, os bares pululam na capital, Timbu, encaixada nas montanhas cobertas de névoa, os adolescentes enchem os cibercafés para jogar jogos de computador violentos e os homens fumam e fazem apostas nos salões de snooker. Ainda não há semáforos e os residentes protestam contra a sua instalação, mas de resto o país, outrora isolado e escondido entre Índia e China, está a mudar. E isto significa que estão a aparecer também os problemas do mundo moderno.
Dentro de uma discoteca brilhantemente iluminada, os clientes veem uma mulher de 38 anos a mover-se ao som das músicas que escolhem, normalmente de folclore tradicional, mas por vezes um tema ou outro vindo diretamente de Bollywood. Lhaden, uma mãe divorciada, com duas crianças, dança até à meia-noite e como milhares de compatriotas está a ter dificuldades para fazer face às despesas.
"Não estou feliz ou triste com as coisas, não tenho outra escolha", disse Lhaden, que só tem um nome. O Butão mede a sua riqueza nacional pelo índice de felicidade, com o objetivo de construir uma sociedade satisfeita. Mas Lhaden, que ganha 125 dólares por mês, está a contar os cêntimos. "Vivo num apartamento pequeno para poder comprar comida e roupas."
Sinais de mudança estão em todo o lado, arrastando o país de montanhas cobertas de neve, florestas, rios e ar puro para o mundo moderno. Colunas de fumo erguem-se de locais de construção e as estátuas gigantes de ouro e bronze do Buda, que assinalam as entradas do vale de Timbu, partilham agora o espaço com torres modernas de telecomunicações. Nas ruas, e até no campo, as calças de ganga tornaram-se tão habituais como as tradicionais vestes gho, até ao joelho, para os homens e as kira, até ao tornozelo, que as mulheres usam.
A economia do Butão, de 2,2 mil milhões de dólares, continua baseada na agricultura, mas os telemóveis e televisores estão por todo o lado, até no vale Phobjikha, um oásis turístico a sete horas de distância de Timbu que no inverno é a casa dos famosos grous de pescoço preto do Butão.
"As crianças estão a passar mais tempo ao telemóvel e não estão a estudar", disse Ap Daw, de 43 anos, um agricultor que também lamenta os montes crescentes de lixo ao longo das estradas. Ao lado da sua casa, uma equipa de monges budistas despiu os trajes carmesins para jogar futebol, em camisolas do Manchester United e do Chelsea. O filho de 13 anos de Daw, Sonam Tshering, ele próprio um fã de futebol, também tem grandes sonhos.
"Adorava tornar-me num professor de ciências e ver o Cristiano Ronaldo jogar no Real Madrid", afirmou Sonam, enquanto ajudava a alimentar o gado da família.
*Jornalista da Reuters