Tecnologias de informação e turismo vão ter maior procura em 2017
"O mercado laboral português estagnou há uns anos, as empresas reduziram as suas estruturas de recursos humanos e esqueceram-se de planear o futuro. Quando o mercado voltou a abrir, fê-lo de forma muito rápida e as instituições não estavam preparadas. Hoje custa-lhes encontrar certos profissionais", é desta forma que Sandrine Veríssimo, diretora regional da Hayes, justifica a crescente procura, sem oferta correspondente, de profissionais das áreas de tecnologias de informação.
"Os IT são os únicos que estão num mercado candidate driven, ou seja, há mais procura do que oferta e os próprios técnicos é que escolhem onde é que querem trabalhar", concorda Nuno Troni, diretor da área de profissionais da Randstad, que indica que os empregadores chegam a abrir processos de recrutamento em várias empresas especializadas para a mesma posição.
É uma profissão muito especializada, mas com emprego assegurado. As vertentes mais procuradas são os programadores. "Tudo o que trabalhe com a área digital, CRM, e-commerce. Pessoas que saibam mexer com Dot Net, Java e Mobile têm sempre muita saída," explica Sandrine Veríssimo.
Mas as novas tecnologias abrangem mais do que os programadores especializados e os técnicos de informática. Com o avanço da digitalização e da inovação no mundo empresarial, as instituições cada vez mais pedem profissionais que se consigam moldar aos novos tempos e tendências. "A área específica do marketing tem vindo a sofrer constantes adaptações, fruto do exponencial progresso tecnológico e digital, o que por sua vez tem revolucionado a vertente da comunicação. As profissões ligadas ao marketing digital, social media e de gestão de produto continuarão a ter destaque nas organizações", exemplifica Carla Rebelo, diretora-geral da Adecco.
Contudo, é um pau de dois bicos. Com o avanço da digitalização e da inovação no mundo empresarial, há a necessidade de contratar técnicos especializados em inovação e de moldar profissões antigas às novas tecnologias. Mas, por outro lado, as instituições conseguem também informatizar muitas tarefas provocando o despedimento de mão-de-obra. No final da Web Summit, o maior evento tecnológico do mundo, que em novembro teve lugar em Lisboa, Paddy Cosgrave, CEO da conferência, perguntava: "O que vamos fazer quando milhões de pessoas ficarem sem emprego [devido ao avanço da tecnologia e inovação]? Essa é uma conversa séria que vamos precisar de ter?"
Para já, o melhor é seguir a indicação de Carla Rebelo, que aponta que, em 2017, existem ainda vários setores nos quais a procura vai continuar a aumentar, sobretudo "no turismo, nos que estão diretamente ligados ao investimento direto estrangeiro como o setor financeiro, de serviços partilhados, imobiliário, agroindústria e indústrias criativas de serviços, como por exemplo, as startups".
Mas há tendências que vão transitar de 2016 para o ano que agora se inicia. "Não é verdade que há engenheiros a mais. Continua a haver procura, sobretudo na área da engenharia da automação e da mecatrónica. Encontrar bons profissionais no ramo é quase como encontrar uma agulha num palheiro", afirma Sandrine Veríssimo.
Mas nem todas as engenharias terão a mesma saída. A tecnológica vai estar em destaque enquanto a industrial será mais procurada no Norte do país. A civil continuará sem grande vazão, uma vez que o investimento em obras públicas está em baixa. Mas há vários outros setores que continuam em alta. "Prevemos continuar a receber das empresas muitos pedidos de profissionais da área da economia e gestão. Obviamente que os que vierem dos melhores cursos e universidades serão os que vão ficar mais bem posicionados nos recrutamentos", assegura Nuno Troni, da Randstad.