Tecnologia laser revela segredos de cidades escondidas pela selva

Descobertas vão ser divulgadas amanhã, 12 de junho, pelo arqueólogo australiano Damian Evans e prometem rescrever a história do Camboja.
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Várias cidades dos séculos VII a XV, com destaque para a de Mahendraparvata, que rivaliza em tamanho com a atual capital do Cambodja, Phnom Penh, foram descobertas graças à utilização de uma nova tecnologia laser. E se algumas já se suspeitavam que existiriam, outras nunca tinham sido referenciadas. A dimensão e localização dessas cidades e a elaborada rede de gestão e tratamento de águas detetadas pelo scanner a laser da selva do Camboja em torno do templo de Angkot Wat prometem novidades sobre o império Khmer e o seu declíneo.

A notícia foi avançada pelo jornal britânico The Guardian, e os principais dados da investigação da equipa de Damian Evans vão ser apresentadas pelo próprio arqueólogo australiano esta segunda-feira, 12 de junho, na Royal Geographic Society, em Londres e publicadas no Journal of Archaelogical Science nesse mesmo dia.

Ao The Guardian, o arqueólogo revelou já que "foram descobertas cidades inteiras que se encontravam escondidas pela floresta e que ninguém sabia que ali estavam". O trabalho desta equipa, financiado pelo Centro Europeu de Investigação da União Europeia, começou há alguns anos e, em 2012, foram apresentados os primeiros resultados.

Em 2015, um scanner a laser, transportado por um helicóptero, "leu" uma área com cerca de 1900 metros quadrados, emitindo 16 raios laser por metro quadrado durante os voos. A informação assim reunida serviu para a construção de modelos 3D de quando existe no terreno. "Em 2012 tínhamos identificada Mahendraparvata, mas desta vez conseguimos vê-la em toda a sua dimensão, e é enorme, do mesmo tamanho de Phnom Penh", disse ainda o arqueólogo ao jornal britânico.

A leitura a laser permitiu ainda identificar um elaborado sistema de águas datado de uma época muito anterior àquela em que se julgava que esta tecnologia tinha sido utilizada pela primeira vez. "O nosso conhecimento sobre as capitais pós-Angkor Wat [fundada na primeira metade do século XII] também nos dá novas perspetivas sobre o seu colapso", refere Evans. "Há a ideia de que, de algum modo, os Thais invadiram a zona e toda a população fugiu para sul. Mas isso não aconteceu porque não há cidades [reveladas pelo scanner de laser] para onde pudesse ter fugido. E este conhecimento coloca em causa toda a teoria existente sobre o colapso de Angkor", referiu o arqueólogo australiano.

Vários especialistas de diferentes nacionalidades, contactados pelo The Guardian, partilharam o entusiasmo face às novas informações disponibilizadas pelo trabalho da equipa de Damian Evans, com Michael Coe, professor de Antropologia da Universidade de Yale, nos Estados Unidos e especialista na história de Angkor e na civilização Khmer, a considerar que "estas decobertas significam o maior avanço dos últimos 50 ou mesmo 100 anos do nosso conhecimento da civilização Angkor".

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