Tati, Chaplin e outros filmes a pensar no público infantil
Por tradição ou apenas por rotina de consumo, há uma típica interrogação cinematográfica que o verão sempre suscita: que filmes mostrar às crianças? Entre as respostas disponíveis, o cinema Monumental, em Lisboa, propõe um ciclo com sessões nas manhãs de sábado e domingo, sempre às 11.00 - o Monumental dos Miúdos arranca no dia 19 com a animação mexicana O Herói da Quinta (2015), prolongando-se até 1 de outubro com Gru - o Maldisposto 3 (2017), um dos produtos de sucesso dos estúdios Illumination.
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O ciclo inclui alguns dos títulos que suscitaram destaques nas notícias dedicadas ao box office, nacional e internacional. Além do terceiro capítulo de Gru, será também o caso de outras animações como Astérix: O Domínio dos Deuses (2014), no dia 26 deste mês, Lego Batman: O Filme (2017) e Cantar! (2016), ambos em setembro, respetivamente a 17 e 24.
A iniciativa reflete, afinal, uma realidade em que nem sempre se repara com a devida atenção: o mercado do cinema para crianças é tão competitivo como o dos adultos. Porventura ainda mais, tendo em conta o facto de diversos títulos para o público infantil ocuparem, com frequência, os lugares cimeiros dos tops mensais e anuais.
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Daí que seja importante sublinhar a presença de alguns filmes de raiz europeia que, estranhamente ou não, nem sempre mereceram a mesma atenção mediática dada às produções ligadas aos grandes estúdios americanos. Será o caso de Minúsculos - O Vale das Formigas (2013), a 20 de agosto, e A Ovelha Choné - o Filme (2015), a 23 de setembro. Neste domínio, o destaque vai para a maravilhosa versão de O Principezinho (2015), a 2 de setembro, delicada reinvenção do livro de Antoine de Saint-Exupéry que, em boa verdade, ilustra os cruzamentos criativos deste domínio artístico: trata-se de uma produção de raiz francesa dirigida pelo americano Mark Osborne. A não esquecer também, a 9 de setembro, um título "marginal" dos EUA: Kubo e as Duas Cordas (2016).
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Enfim, com nostalgia ou não, é inevitável reconhecer que os melhores dos melhores serão os clássicos, neste caso, Charlie Chaplin e Jacques Tati. Charlot estará presente, no dia 27, através da versão restaurada de Tempos Modernos (1936), essa fábula sobre a mecanização do trabalho cuja atualidade política nunca se desvaneceu. De Tati poderemos ver ou rever Há Festa na Aldeia (1949) e Trafic (1971), respetivamente a 16 e 30 de setembro.
Há Festa na Aldeia, centrado na delirante personagem do carteiro rural interpretado pelo próprio Tati, é uma festiva antologia de um modelo de burlesco sem equivalente no cinema europeu - o seu restauro deu origem a uma cópia de impecável qualidade. Quanto a Trafic, porventura o menos conhecido título da filmografia do seu autor, a sua narrativa centrada numa exposição de automóveis, em Amesterdão, envolve também uma perturbante atualidade: o sentido crítico da comédia segundo Tati visa o endeusamento do automóvel e as ilusões da sociedade de consumo - as crianças merecem filmes que pensam no seu futuro.
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