Segundo o etnólogo Roger Boulay, comissário da exposição "Tarzan! Ou Rousseau chez les Waziri", que abriu há dias no Museu do Quai Branly, em Paris, "Tarzan permite compreender como se constitui um mito da humanidade, ele é uma grande mistura de elementos pedidos emprestados à realidade e à imaginação"..Com efeito, Edgar Rice Burroughs, o "pai" do homem-macaco, além de leitor entusiasta de Darwin, Kipling de O Livro da Selva e de livros de viagens de exploração, e de um apaixonado por uma África, que nunca visitou mas "descobriu" na Exposição Universal de Chicago de 1893, misturou-lhes o mito do "bom selvagem" e o do Paraíso perdido, criando, em 1912, um dos maiores e mais perenes heróis da cultura popular. Um branco de ascendência aristocrática, criado na selva pelos símios, que vive aventuras numa África fantasiosa a que chama casa, e cuja fauna e riquezas naturais protege da rapacidade e da ganância dos homens, tornando-se assim num ecologista avant la lettre..É este herói "criado por oposição aos super-heróis robotizados que aparecem na mesma época", como o classifica Roger Boulay, que ficou no cinema com o rosto e o corpo de Johnny Weissmuller, e na banda desenhada com os traços de Burne Hogarth, Hal Foster e Russ Manning, que o Museu do Quai Branly homenageia numa grande mostra, em parceria com o Centre International de la Bande Dessinée et de l'Image. .Logo à entrada, ecoam pelo museu ruídos da selva e ritmos africanos, bem como o célebre grito de Tarzan imortalizado por Weissmuller (mas na realidade fabricado em estúdio por sonoplastas). O visitante é a seguir "recebido" por um gorila de dois metros, um dos vários animais à escala natural que pontuam a exposição (não falta a imprescindível Chita), e por um quadro do século XVII que mostra Hércules a disparar uma flecha e remete para referentes mitológicos longínquos da personagem, mas também evoca a força física, a beleza e a perfeição anatómica de Tarzan..A mostra está organizada por temas (O Cinema e Tarzan, A Selva, etc.), e além de livros, bandas desenhadas, cartazes, excertos dos filmes, pranchas originais do magistral Tarzan de Burne Hogarth (que teve honras do cartaz da exposição), fotografias, gravuras, peças de merchandising e de colecção, uma homenagem a Johnny Weissmuller, retratado por vários autores de banda desenhada, ou ainda de uma sala com fotografias de todos os actores que interpretaram Tarzan, inclui curiosidades como uma sequência censurada de Tarzan e a Companheira (1934), em que Johnny Weissmuller executa uma dança nupcial aquática para uma Jane (Maureen O' Sullivan) completamente nua..Dado que o Museu do Quai Branly é dedicado às culturas primitivas da África, da Ásia, da América e da Oceânia, a exposição de Tarzan está enriquecida com objectos africanos alusivos das colecções da instituição, entre máscaras, lanças, escudos e arte vária..A exposição fica patente ao público até dia 27 de Setembro. Ou seja, o homem-macaco vai passar o Verão em Paris.