Tarzan há só um, weissmüller e mais nenhum

Ao longo de uma dúzia de filmes,  de 1932 a 1948, este campeão olímpico de natação foi o mais popular, atlético  e lucrativo Tarzan do cinema.<br />
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Um grupo de celebridades americanas jogava um torneio de golfe em Cuba, em 1958, quando se viram cercados por guerrilheiros castristas com a intenção de os raptar.

Do grupo de golfistas fazia parte Johnny Weissmüller, o maior Tarzan do cinema, que pôs as mãos junto da boca e soltou o inconfundível grito do Homem-Macaco. Os guerrilheiros ficaram tão entusiasmados com a presença do actor que o rodearam, cumprimentando-o e dizendo "Tarzan! Tarzan! Bem-vindo a Cuba", e depois o escoltaram, bem como aos restantes americanos do grupo, até lugar seguro.

Alemão étnico nascido na antiga Áustria-Hungria (hoje Banat, na Sérvia) baptizado Janos e trazido pelos pais para os EUA aos sete meses, Johnny Weissmüller nunca sonhou, quando aos nove anos ficou doente com poliomielite e começou a nadar a conselho do médico, que não só se tornaria num grande campeão de natação americano e olímpico, como também se transformaria no mais popular, atlético, lucrativo e definitivo Tarzan do cinema, com 12 filmes interpretados entre 1932 (Tarzan, o Homem--Macaco) e 1948 (Tarzan e as Sereias).

Numa entrevista dada alguns anos depois de se ter retirado do cinema (onde depois do Tarzan de Edgar Rice Burroughs, também personificou o Jim das Selvas de Alex Raymond), Weissmüller, co nhecido pela sua modéstia, explicou o seu sucesso no papel do Homem-Macaco: "Como é que um sujeito pode andar a subir às árvores e a dizer 'Eu, Tarzan, tu, Jane', e ganhar um milhão de dólares? O público desculpa as minhas interpretações porque sabe que eu sou um atleta. Sabe que eu não estava a fingir".

Weissmüller era sem dúvida, o artigo genuíno. Fingido era o inesquecível grito de Tarzan, um dos sons mais históricos e imediatamente reconhecíveis da Sétima Arte. Em 1970, o actor revelou na televisão que o grito tinha sido fabricado em estúdio pelos técnicos da MGM, combinando a voz de dois cantores de ópera com registos diferentes, e de... um chamador de porcos.

Quando foi "descoberto" pelo argumentista Cyril Hume na piscina do hotel em que estava instalado, Johnny Weissmüller era modelo e representante dos fatos de banho BVD, um contrato obtido por causa das suas medalhas olímpicas e das suas vitórias e recordes de natação nos EUA. Tinha aparecido brevemente como Adónis no filme Glorifying the American Girl (1929) e em duas curtas sobre os campeões olímpicos americanos.

O seu primeiro filme para a MGM como Tarzan (e também o primeiro sonoro da personagem de Edgar Rice Burroughs), Tarzan, o Homem-Macaco, foi um sucesso imediato. Johnny Weissmüller faz mais cinco para a MGM até 1943, ano em que a série transitou para a RKO. Acompanharam-no, no papel de Jane, primeiro Maureen O'Sullivan (do filme de estreia até Tarzan em Nova Iorque, de 1942), e a seguir Brenda Joyce, até ao último filme; Johnny Sheffield, no papel de Boy, desde Tarzan Encontra um Filho (1939); e a inseparável macaca Chita.

Quando o público se cansou de ver Tarzan enfrentar desde pigmeus assassinos a caçadores inescrupulosos e tribos lideradas por belas mulheres, Weissmüller continuou nas selvas africanas tal co mo eram recriadas nos estúdios de Hollywood, interpretando Jim das Selvas, entre 1948 e 1954. E quando os espectadores se fartaram dos jungle movies e dos seus ingénuos estereótipos, Johnny Weissmüller retirou-se do cinema e dedicou-se aos negócios, criando, entre outras, uma empresa de piscinas.

Morreu em Acapulco, no México, a 20 de Janeiro de 1984, com 79 anos. Exactamente onde tinha sido rodado o último filme da série, Tarzan e as Sereias. No funeral, e a pedido do actor, foi tocada por três vezes uma gravação do grito de Tarzan.

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