Tapetes de Arraiolos resistem mal à invasão da tapeçaria chinesa
A última década foi fatal para o tapete de Arraiolos, que não resistiu à invasão da tapeçaria chinesa. As 23 empresas que em 1997 davam trabalho a cerca de 1500 bordadeiras, garantindo uma facturação anual de cinco milhões de euros, hoje não passam de 14, com perto de 300 postos de trabalho e uma produção inferior ao milhão e meio de euros, segundo os números relevados pela autarquia. São os restauros que ainda mantêm algumas portas abertas.
A casa Califa, criada em 1916, é o espelho da crise. Outrora apinhada de clientes, está hoje às moscas. O gerente Alfredo Barbeiro espera que "um milagre" evite o fecho do estabelecimento, mas a registadora apresenta uma realidade cruel: o mês de Maio está no fim e nem um exemplar foi vendido. Há dez anos, com os sinais de crise a despontar, Alfredo Barbeiro nunca facturava menos de dez mil euros por mês e chegou a dar trabalho a 50 mulheres, entre as que laboravam a tempo inteiro e as que tinham outra profissão, fazendo tapetes nas horas vagas. Hoje tem apenas duas, com pouco para fazer.
Além da concorrência Oriental, os empresários trocam acusações em torno da "concorrência interna desleal", com base numa realidade comprovada entre as várias lojas da terra. O metro quadrado pode ser encontrado de 200 a 300 euros, permitindo adquirir um Arraiolos genuíno, com dois metros de cumprimento e um de largura, por cerca de 600 euros. "É ingovernável", diz Amélia Dias, ex-bordadeira no desempre- go, explicando que uma mulher demora dez dias a concluir um metro quadrado. "Não dá para as lãs", desabafa. Parte significativa das anti- gas tapeceiras estão reformadas e as mais novas dividem-se entre o Centro de Emprego e a lavoura.
Mas quando até já se vendem tapetes made in China em Arraiolos, como é que se distingue um genuíno? A pergunta feita a alguns empresários fica sem resposta. Ainda há quem tente argumentar com a diferença dos desenhos ou lãs, mas já existem mesmo fornecedores portugueses que abastecem o mercado chinês, segundo garante Alfredo Barbeiro, que cita o exemplo do seu próprio fornecedor.
A autarquia de Arraiolos ainda tenta incentivar os empresários à criação da desejada certificação de origem que tarda em chegar perante o desespero local. |