TAP. Mentiras, Whatsapp e garotices políticas
Assistir aos trabalhos da Comissão de Inquérito da TAP é ficar com uma ideia muito aproximada do modo como o país está a ser governado.
Um ministro, Pedro Nuno Santos, que mentiu, repetidamente, sobre o conhecimento que tinha da indemnização recebida por Alexandra Reis.
Um secretário de Estado, Hugo Mendes, que enviou um email a pedir à companhia aérea que altere um voo comercial para acomodar o transporte do Presidente da República sem que este o tenha solicitado.
Um grupo parlamentar do partido do governo que na véspera da presença da actual CEO da TAP combina com ela as perguntas e respostas a prestar no dia seguinte numa audição parlamentar.
Um ministro das Finanças, Fernando Medina, que faz um convite a Alexandra Reis para a secretária de Estado do Tesouro, sem cuidar de saber em que condição saiu de administradora da TAP.
Um empresário, David Neeleman que, alegadamente, compra a TAP com dinheiro recebido da Airbus em troca da realização de um novo contrato para a compra de novos aviões.
Uma administração da TAP que ainda não informou Alexandra Reis quanto deve devolver da indemnização de 500 mil euros que recebeu, apesar desta o querer fazer, voluntariamente, e já ter insistido três vezes para que lhe seja dada essa indicação.
Uma CEO, Christine Ourmiéres-Widener, que parece ter entrado em conflito com Alexandra Reis por esta não ter dado seguimento à contratação da empresa de Floyd Widener, marido da actual CEO da TAP.
Ainda a mesma CEO, Christine Ourmiéries-Widener, envolvida num assunto não esclarecido à volta de um motorista, próximo de um dirigente sindical, que comentou a utilização indevida de carros da TAP para transporte de familiares da CEO, alegando que este não se tinha vacinado contra o Covid, e salvo por Alexandra Reis, ao soar do gong, de ficar sem emprego.
Um CFO (administrador financeiro) que apesar de reportar, directamente, ao ministério das Finanças vai à Comissão de Inquérito afirmar ter conhecido apenas na véspera o acordo de indemnização de Alexandra Reis, e que o líder do PSD, Luís Montenegro, acusa de ter mentido à Comissão com todas as consequências que daí advêm.
Um ex-administrador, Fernando Pinto, alegadamente com um contrato de consultadoria no valor de 61 milhões de euros que a Comissão de Inquérito Parlamentar quer agora saber se existe e qual o seu fundamento.
Ufff... parece a aldeia dos gauleses!
Tudo isto gerido com o mais moderno sistema de comunicação para decidir assuntos de Estado chamado Whatsapp.
A TAP é hoje sintoma de uma significativa falta de autoridade do Estado, da presença no Governo de protagonistas sem experiência política, sem conhecimento da vida real, yes man sem opinião própria, marcados por uma cegueira partidária a quem são entregues dossiers políticos sensíveis para os quais não estão, manifestamente, preparados para gerir.
Estamos, infelizmente, a assistir ao fim de mais uma empresa portuguesa dotada de um prestígio lendário, na formação dos seus pilotos, com um serviço de manutenção primoroso que era conhecido em várias latitudes.
A voar para 90 destinos a TAP é um símbolo de segurança aérea, com registo de apenas um acidente em toda a sua existência. A exemplo da Portugal Telecom é mais uma empresa que vamos perder nma venda a preço de pataco, depois do espectáculo a que estamos a assistir e que desvaloriza, significativamente, a companhia.
Pelo caminho já ficaram sem emprego 2360 trabalhadores despedidos num processo de reestruturação destinado a preparar a companhia para a privatização.
Salva-se a instituição Parlamento e a sua Comissão de Inquérito que pela qualidade dos seus trabalhos e de alguns deputados está a trazer ao conhecimento de todos nós as garotices políticas que ao longo dos anos têm sido praticadas na TAP.
Mau de mais para ser verdade, como diz o povo!
Jornalista