Tão perto e tão distante de casa na ria Formosa

Publicado a
Atualizado a

A manhã está calma, o sol brilha e o Mira Sado deixa o cais de Olhão, já bastante degradado, em direcção à ilha do Farol. São 11.00 horas. A viagem dura 45 minutos nas suaves águas da Ria Formosa, com paragem na Culatra, e custa 1,60 euros a travessia. Alguns passageiros aproveitam para ler jornais. Uma turista prefere um livro, relaxando com as pernas estendidas até fora do barco. Um miúdo, perseguido pelo pai, vai até um espaço sem protecção adequada para melhor poder desfrutar da paisagem com gaivotas, viveiros de marisco e pequenas embarcações de pescadores. Numa conversa entre senhoras, uma delas graceja: "Aquela zona estava cheia de barcos velhos. Já não há nada. Deve ter sido a CEE que limpou?"

Quando o Mira Sado passa junto à ilha dos Hangares, Vitorino Neves acena a familiares que estão no cais. Eles retribuem a saudação. Apesar de viver ali desde que nasceu, há 69 anos (a sua casa, com oito décadas, é a mais antiga da zona. "Construída pelo meu pai com autorização de entidades oficiais, às quais pagou as licenças, assim provam os documentos que tenho, por isso, se na altura deixaram fazer tudo não há aqui casas clandestinas...", como faz questão de frisar ao DN), tem de esperar que o barco atraque na ilha do Farol para regressar ao lar. A pé ao longo de mais de três quilómetros, carregado de compras feitas em Olhão e Faro. O mesmo sucede com outros habitantes dos Hangares, dependentes das carreiras fluviais. "Os barcos da Marinha deixaram, há mais de 20 anos, cair a ponte que servia de apoio às carreiras. A Marinha construiu uma, mas não autoriza os barcos da carreira a atracar ali. Sinto-me revoltado", desabafa Vitorino Neves.

A viagem é agradável, mas Alda André diz faltar um "barquinho melhor. No Verão, com tanta gente ainda é pior". Já Amâncio do Rosário, antigo pescador, tendo sido patrão do salva-vidas, alerta: "Os barcos das carreiras já não se coadunam com os tempos actuais. Vêm à cunha. Se cair alguma tábua do fundo, pois estão sujeitos a grande desgaste, será um desastre. Mas se o pessoal das ilhas se juntasse e fizesse um abaixo-assinado a quem de direito, poderíamos ter carreiras como deve ser e mais rápidas. Assim, é um risco para quem aqui viaja." O Mira Sado tem 325 lugares, opera no Algarve há dez anos e a empresa garante "não haver perigo", atendendo às vistorias realizadas. No Verão, haverá carreiras de duas em duas horas de Olhão ao Farol. Para a ilha da Armona será de hora a hora pela Ria Formosa.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt