Suspeitos de comprar votos nos JO presos no âmbito da Lava-Jato

Jurados que escolheram o Rio como sede olímpica em 2016 foram subornados, diz polícia. Presidente do comité olímpico local presta depoimento. Empresária presa. Sócio em fuga
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A Operação Lava-Jato chegou aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro do ano passado. Agentes da Polícia Federal e do Ministério Público Federal prenderam ontem uma empresária suspeita de participar no pagamento de subornos a membros do Comité Olímpico Internacional (COI) para que votassem a favor do Rio como sede dos Jogos. Um ex-sócio dela está em fuga. E o presidente do Comité Olímpico do Brasil (COB) foi levado a depor depois de a sua casa ser alvo de buscas policiais.

A ação, batizada de Unfair Play [jogo sujo], é mais uma etapa da ramificação carioca da Lava-Jato, liderada pelo juiz Marcelo Bretas, em colaboração com a polícia francesa, depois de o caso de compra de jurados ter sido noticiado pelo jornal Le Monde, em março. Segundo essa reportagem, três dias antes da escolha da cidade--sede dos Jogos Olímpicos, dirigentes do COI foram pagos para votar na metrópole brasileira.

Os agentes chegaram à casa do presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, às 06.00 de ontem, 10.00 em Portugal, com um mandado de busca e apreensão. Permaneceram na residência, no Leblon, bairro nobre do Rio, durante três horas e meia até levarem o dirigente para prestar depoimento na sede da polícia.

As autoridades suspeitam de que Nuzman tenha servido de ponte entre os corruptores - os ex--sócios da empresa Facility Arthur Soares Filho, conhecido como "Rei Arthur", e Eliane Cavalcante - e os corrompidos - entre os quais, de acordo com as investigações, o ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo, o senegalês Lamine Diack, que teria recebido dois milhões de dólares para votar no Rio.

Como Nuzman possui um passaporte russo, está proibido de se ausentar do país. Além disso, o Ministério Público pediu o bloqueio de mil milhões de reais das suas contas.

Eliane Cavalcante, detida na manhã de ontem no bairro das Laranjeiras, também no Rio, era sócia da Facility, uma empresa que mantinha contratos milionários de fornecimento de serviços com o governo do estado, liderado à época por Sérgio Cabral, agora detido por suspeita de desvios multimilionários de dinheiro público. Segundo a polícia, para manter esses contratos milionários, Cabral recebia subornos da Facility através de uma conta localizada no país caribenho Antígua e Barbuda. Foi dessa mesma conta que saiu o pagamento para os jurados do COI, apuraram os investigadores, porque a empresa tinha interesse direto na realização dos Jogos no Rio de Janeiro.

O outro sócio da Facility, a morar em Miami, não foi localizado pela polícia e já está na Difusão Vermelha, a lista de procurados pela Interpol. As autoridades dos EUA, que colaboram com a investigação, desconfiam que o "Rei Arthur" fugiu num iate. O último rasto que a polícia tem do empresário, que também é dono de um luxuoso apartamento no oitavo distrito de Paris, foi num voo de Lisboa para Pittsburgh, nos Estados Unidos, no passado dia 24 de agosto.

Tal como Carlos Arthur Nuzman, os sócios da Facility também viram parte dos seus bens no Brasil, como sejam apartamentos em zonas nobres do Rio, automóveis de luxo ou aeronaves, apreendidos.

As investigações duraram nove meses e resultaram da cooperação jurídica entre Brasil, França, Reino Unido, Estados Unidos e Antígua e Barbuda. Segundo a polícia, "tratava-se de um esquema de corrupção altamente sofisticado, que agia internacionalmente com desenvoltura e uma engenhosa e complexa relação corrupta".

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