Susanna Mälkki executa testamentos de Sibelius e Mahler

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Nesta quinta-feira (às 21.00) e no dia seguinte (às 19.00), a Orquestra Gulbenkian faz um dos programas mais interessantes da temporada, dirigido por uma das mais consistentes e convincentes figuras que passam com alguma regularidade pelo nosso país.

Em relação ao programa, ele emparelha duas obras verdadeiramente fascinantes: o poema sinfónico 'Tapiola, op. 112', de Jean Sibelius (1865-1957), a última obra de envergadura que o compositor finlandês deixou, antes de se auto-encerrar num silêncio criativo de três décadas, do qual não mais sairia. 'Tapiola' foi escrito em 1926, respondendo a uma encomenda do maestro Walter Damrosch, diretor da New York Symphony. Esses maestro e orquestra estrearam a obra, no dia a seguir ao Natal de 1926, em Nova Iorque. A obra, cujo título significa "os domínios de Tapio" é uma evocação das vastas planuras florestadas da Finlândia, vistas através de Tapio, o espírito que a elas preside, mencionado na epopeia nacional 'Kalevala'. Com cerca de 15-20 minutos de duração, é uma obra típica do Sibelius tardio, formando com as Sinfonias n.º 6 e n.º 7 um tríptico natural.

Mas, pese toda a força de 'Tapiola', a verdadeira 'pièce de résistance' do programa é de facto a 'Sinfonia n.º 9, em ré M', de Gustav Mahler, que a Orq. Gulbenkian retoma cinco anos após a última execução, dirigida por Bertrand de Billy. E mais ainda do que 'Tapiola', a 'Nona' de Mahler é uma obra de adeus, pois o compositor austríaco sabia então que a sua hora se aproximava e "sinais" dessa consciência foram inclusivé metamorfoseados em notação musical nessa partitura. A obra foi escrita entre 1908 e 1909 (em paralelo com 'A Canção da Terra') e teve estreia, póstuma, a 26 de junho de 1912, pouco mais de um ano após a morte do compositor, pela Filarmónica de Viena, dirigida por Bruno Walter. Tem quatro andamentos, iniciando com um longo 'Andante' que é uma das mais admiráveis construções sinfónicas e de orquestração de Mahler e terminando por um longo 'Adagio', tal como sucedera já na '3.ª Sinfonia'. Tem uma duração aproximada de 80 minutos.

No pódio da direção estará Susanna Mälkki (n. 1969), a finlandesa que é Maestrina Convidada Principal da Orquestra Gulbenkian desde a temporada 2013-14 e que foi em setembro passado nomeada próxima titular da Orquestra Filarmónica de Helsínquia, a mais importante e histórica orquestra do seu país natal, a partir da temporada 2016-17. Mälkki tem a rara capacidade de gerar consensos acerca das suas interpretações e a verdade é que sempre nos convenceu de todas as vezes que a vimos na Fundação. Seria por isso bom que, terminando o seu contrato no verão de 2016, o prolongassem o quanto antes...

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