Suposto favoritismo do City Kai frente a pragmatismo blue

Chelsea conquistou, no Porto, o segundo título europeu graças a um golo solitário do alemão Kai Havertz, que deu ao seu compatriota Thomas Tuchel o terceiro triunfo seguido sobre Guardiola.
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Com uma exibição excecional do francês N"Golo Kanté e um golo do alemão Kai Havertz, o Chelsea sagrou-se este sábado campeão europeu pela segunda vez na sua história, superando um Manchester City que nunca conseguiu encontrar forma de dar a volta à estratégia montada por Thomas Tuchel para o jogo do Dragão - o alemão sucede assim aos compatriotas Jürgen Klopp e Hans-Dieter Flick na lista de técnicos vencedores. Foi a terceira vitória consecutiva dos blues londrinos sobre os citizens desde a chegada do técnico germânico a Stamford Bridge (substituiu Frank Lampard em janeiro depois de deixar o Paris SG, que levara à decisão do ano passado) e, seguramente, a mais saborosa. Já Pep Guardiola continua sem conseguir chegar ao título máximo desde que deixou Barcelona, numa noite triste para os portugueses Rúben Dias (que esteve ao seu nível), Bernardo Silva (mal se viu) e João Cancelo (não saiu do banco).

Pelo segundo ano consecutivo, a mais importante competição de futebol de clubes teve o seu desfecho em Portugal. Depois da Luz, coube ao Estádio do Dragão receber a final da Liga dos Campeões em substituição de Istambul e, pela terceira vez na história, duas equipas inglesas decidiram o destino da "orelhuda" - como é conhecida a Taça que consagra o campeão europeu - curiosamente, por dois clubes que ascenderam de uma certa mediania no início do século XXI quando "descobriram" os respetivos poços de petróleo, um na Rússia (através de Roman Abramovich) e o outro nos EAU (graças a um fundo patrocinado pelo Sheik Masour). Antes, a grande "rivalidade" entre ambos dava-se mais no meio musical, quando, no auge do Britpop nos anos 90, Oasis (dos irmãos Gallagher, adeptos do City) e Blur (de Damon Albarn, seguidor dos blues londrinos) se digladiavam pelo domínio nas tabelas musicais.

Os tempos mudaram e, depois de duas noites complicadas na Invicta, os dois conjuntos pisaram o relvado de um recinto adornado com cerca de 14 mil espectadores e depois de uma performance do norte-americano DJ Marshmello, prontos para discutir uma glória que apenas um já tinha conseguido na sua história.

Desde o apito inicial do espanhol Mateu Laoz, ambos os conjuntos lançaram-se com tanta sofreguidão ao jogo como os respetivos adeptos tinham feito com a cerveja na Ribeira. Foram uns minutos de grande intensidade mas, gradualmente, o Chelsea foi tomando conta das operações, graças à omnipresença de N'Golo Kanté - um francês é um verdadeiro polvo e até surgiu a ganhar um lance de cabeça na área adversária - e à melhor mobilidade do seu ataque, onde apenas a habitual falta de killer instinct de Timo Werner impedia os londrinos de causar mais perigo. O alemão dispôs mesma da melhor hipótese neste período, que concluiu com um remate fraco que Ederson agarrou sem problemas.

Perto da meia hora, o conjunto de Guardiola conseguiu regressar ao jogo e dar algum descanso a Rúben Dias e companhia. Com uma pressão mais efetiva reduziu os espaços de saída do Chelsea e chegou a causar algum alarme na área adversária, quando Phoden surgiu em boa posição, apenas para ver Rüdiger evitar que conseguisse rematar.

Aos 40 minutos, Tuchel perdeu o central Thiago Silva por lesão mas nem isso abanou a estrutura dos blues. E, pouco depois, aos 42', o golo apareceu mesmo, num lance iniciado em Mendy e que colocou a nu a principal fragilidade apontada ao City, o espaço que concede nas costas da sua defesa: Mount desmarcou Havertz, este escapou a Zinchenko, passou por Ederson e rematou para a baliza vazia. Foi o primeiro golo em 12 jogos na prova do jovem alemão (21 anos), segundo jogador mais caro da história dos blues, dando justiça ao resultado - o City apenas rematou uma vez na primeira parte (e nem sequer acertou na baliza), contra cinco do Chelsea.

A segunda metade começou de forma naturalmente diferente. Em vantagem, a equipa de Tuchel baixou linhas, procurando reduzir ainda mais os espaços e a fluidez de jogo do City, embora mantendo sempre o olho numa possível transição. E, bem cedo, os homens de Guardiola ficaram sem o capitão De Bruyne - o belga lesionou-se num choque com Rüdiger, mas a verdade é que até então tinha estado bastante discreto no papel de falso 9, para onde entrou Gabriel Jesus. E, pouco depois, também um Bernardo "desaparecido" deu o seu lugar no onze a Fernandinho.

E, se os citizens ainda ameaçaram num centro perigoso que Azpilicueta cortou num carrinho esforçado, a verdade é que melhor hipótese do segundo tempo foi, uma vez mais, do Chelsea. Havertz deixou Pulisic na cara de Ederson mas o estado-unidense não conseguiu acertar na baliza.

Guardiola tentou tudo e lançou inclusivamente Sergio Agüero, na sua última aparição com a camisola do City, mas a verdade é que o mais perto que esteve do empate foi no último minuto da compensação, quando um remate de Mahrez saiu perto da trave. O Chelsea defendeu com unhas e dentes, deu tudo até ao fim. E não podia ser de outra maneira.

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