Suplementos têm muitas vezes efeito enganador
Dietas. Os suplementos nutricionais têm riscos para a saúde, especialmente se forem tomados em excesso. Na maior parte dos casos, são absolutamente desnecessários, diz João Breda. Perder peso é uma necessidade comum a 50% dos portugueses, mas é um passo que deve ser feito de forma equilibrada
A Depuralina, um suplemento alimentar utilizado para emagrecer, foi suspenso esta semana, depois de várias pessoas terem recebido tratamento hospitalar na sequência de reac- ções alérgicas ao produto. Várias entidades realçaram a ausência de sistemas de controlo e alerta do mercado de suplementos alimentares, actualmente com regras bastante menos rígidas do que o dos medicamentos. João Breda, nutricionista e coordenador da Plataforma contra a Obesidade, explicou o risco destes produtos e como as pessoas devem combater o excesso de peso.
O mercado dos suplementos alimentares deve ser regulamentado?
Os suplementos alimentares têm regras de introdução no mercado diferentes dos medicamentos. A discussão da regulamentação é premente, mas o nutricionista é da opinião que o consumidor destes produtos deve perceber o que está a comprar ou, pelo menos, deve fazê- -lo sob a supervisão de um profissional.
Quais os riscos associados ao consumo destes produtos?
Há sempre riscos. E não é pelo facto de estarmos perante o consumo de produtos naturais. Um deles é o da sobredosagem, que em pessoas mais sensíveis ou alérgicas pode ter reacções adversas graves e até provocar a morte, em última instância. Suplementos como este, afirma o responsável, "podem ajudar a perder muito peso durante algum tempo, mas para o fazer de forma saudável não pode ser demasiado rápido", alerta.
Quantos quilogramas podem as pessoas perder numa dieta saudável?
Numa dieta equilibrada, uma pessoa perde entre três a cinco quilogramas por mês, no máximo. Mesmo que se percam 500 a 800 gramas por semana já é bom, considera. O mais importante "é que a pessoa faça exercício e uma dieta equilibrada".
Pode-se emagrecer sem recorrer a estes suplementos?
"Os suplementos são evitáveis. Na maior parte das vezes têm efeito placebo. Emagrece-se com uma boa dieta, mas as pessoas tendem a usá-los porque se sentem mais confortáveis", diz João Breda. Alguns destes, como as vitaminas, suplementos minerais ou antioxidantes, podem fazer sentido para pessoas que se queixam de ter falta de tempo ou quando não se querem preocupar. "As pessoas não precisam de os tomar. Pensam é que não conseguem sem eles. Isso acontece mesmo com medicamentos receitados por médicos."
Como avalia as dietas baseadas na substituição de refeições por suplementos?
Se as pessoas substituírem a refeição por um batido ou outros suplementos alimentares não estão a consumir as calorias necessárias. "Estamos a falar de 600 a 700 calorias numa refeição como um almoço." A substituição pode trazer carências e até levar a alguns excessos. Há casos em que as pessoas comem normalmente ao almoço ou ao jantar e tomam os batidos ao lanche, consumindo demasiadas calorias. As mulheres continuam a ser as que fazem mais dietas. Entre 10% a 20% das mulheres estão a fazer ou vão fazendo alguma dieta.
As pessoas que queiram perder peso devem sempre recorrer a profissionais?
Devem preferencialmente ter sempre um plano, quer tenham de perder três ou 50 quilogramas, assegura o especialista. Nas consultas, são avaliados todos os riscos e delineadas dietas para a pessoa em questão. Desta forma, a perda de peso é mais eficaz e duradoura. As dietas das revistas não costumam ser um bom exemplo, embora haja alguns conselhos úteis. Quando são rápidas, deve desconfiar-se...
As dietas focadas no consumo de apenas alguns grupos de alimentos, como a carne ou ovos, são equilibradas?
Não. Todas as dietas que conduzam a algum tipo de carência de nutrientes não são uma boa opção. É esse o caso das dietas hiperproteícas, focadas no consumo de proteínas. Têm resultados rápidos, mas fugazes, e as pessoas acabam por engordar novamente. Além disso, perde-se peso "mas não se emagrece, ou seja, perde-se água, nutrientes, massa muscular, mas nunca o que interessa, que é a massa gorda. Por isso, é preciso dizer às pessoas que "emagrecer é diferente de perder peso", diz o nutricionista. O consumo de legumes, frutas e sopa são essenciais a uma dieta equilibrada.
Que passos deve dar uma pessoa com peso a mais?
Deve procurar um médico de família ou um nutricionista, que é a pessoa mais qualificada. "Um médico tem capacidade para aconselhar, mas geralmente não tem mais do que 12 minutos, quando estas consultas podem implicar, no mínimo, 40 minutos. No centros de saúde há cada vez mais nutricionistas e prevê-se que "haja pelo menos um em cada agrupamento de centros de saúde", sublinha João Breda.
Quais as regras básicas de uma dieta saudável?
Comer várias refeições, beber muita água, sumos naturais e chá, comer sopa duas vezes por dia e três a cinco peças de fruta. O peixe deve ser o centro das refeições principais, e a carne consumida não deve passar as 60 a 80 gramas. A prática de exercício físico é essencial: quanto mais vezes por semana, melhor.
Como deve ser uma dieta destinada às crianças?
No caso dos mais pequenos, a dieta nunca deve basear-se em suplementos alimentares. Muitos pais adquirem vitaminas no caso das crianças serem magras, o que também não é necessário. O ideal é procurarem a ajuda de profissionais e nunca apostar em dietas rápidas. Os especialistas aconselham as crianças a manter o peso em vez de perder, de forma a que estabilize à medida que crescem. O importante é não engordar. |