Sunak vs. Truss: quem vai suceder a Boris?
Na votação final, o ex-ministro das Finanças Rishi Sunak conseguiu 137 votos e a chefe da diplomacia, Liz Truss, 113, ultrapassando por apenas sete votos a secretária de Estado do Comércio, Penny Mordaunt.
O vencedor é revelado a 5 de setembro e até lá há uma campanha que pode fraturar o partido
O ex-ministro das Finanças britânico, Rishi Sunak, foi desde o primeiro momento o favorito dos deputados conservadores na corrida à sucessão de Boris Johnson. Mas o político de origem indiana, de 42 anos, tem um longo caminho pela frente se quiser ganhar o apoio dos militantes do partido e tornar-se no primeiro chefe de governo hindu do Reino Unido. Numa sondagem YouGov, não vai além dos 35% de intenções de voto diante dos 54% da adversária, Liz Truss.
Sunak, que fez fortuna no setor financeiro antes de entrar no Parlamento em 2015 (é o deputado mais rico do país), chegou a ministro em fevereiro de 2020. Saltou para a ribalta com o programa de ajuda às empresas e aos trabalhadores durante a pandemia, mas o aumento da inflação e do custo de vida custaram-lhe apoios. A fortuna da família também trouxe problemas - a mulher, a indiana Akshata Murty , é filha de um dos fundadores da gigante de informática Infosys e não pagava impostos no Reino Unido.
Finanças
O principal choque entre Sunak e Truss será na questão dos impostos: o ex-ministro das Finanças é contra o corte imediato que ela defende - num dos debates foi acusado por Truss de ser responsável pelos impostos mais elevados em 70 anos. Ele alega que as medidas que tomou foram necessárias para fazer face ao aumento dos custos desencadeado pela pandemia de covid-19. "Um corte nos impostos que não é acompanhado por um corte nas despesas não consegue nada", defende Sunak. A sua prioridade será cortar na inflação.
Clima
Sunak, tal como Truss, quer manter o compromisso de reduzir as emissões de carbono até 2050. Mas, ao contrário dela, quer manter os "impostos verdes", que favorecem o setor das energias renováveis. É, contudo, acusado de, enquanto ministro, ter resistido a gastar dinheiro nas medidas para combater as alterações climáticas.
Boris
A demissão de Sunak, no início de julho, foi uma das primeiras da rebelião interna que levou à queda do primeiro-ministro. Para muitos é, por isso, um "traidor", apesar de ter estado até ali ao lado de Johnson - Truss nunca deixou de estar. Sunak foi até multado pela polícia depois de ter sido também apanhado no Partygate, tendo estado na festa de anos do primeiro-ministro durante o confinamento. Esta falha pode ser usada pelos adversários.
Oposição
Sunak defende que só ele consegue derrotar o Partido Trabalhista numas eleições gerais. Entre todos os candidatos era considerado pelos analistas como o mais perigoso para o líder da oposição, Keir Starmer.
A chefe da diplomacia, Liz Truss, ultrapassou a secretária de Estado para a Política Comercial, Penny Mordaunt, na votação final, conseguindo um lugar entre os dois finalistas na corrida à liderança do Partido Conservador por sete votos. Em cargos governamentais desde 2012, há muito que foi apontada como a favorita, entre os militantes, para suceder a Boris Johnson, alimentando a imagem de que será a nova Dama de Ferro (numa referência a Margaret Thatcher).
Truss, de 46 anos, deputada desde 2010, foi nomeada por Johnson para o Comércio Internacional, negociando com sucesso os acordos de livre comércio pós-Brexit com a Austrália, o Japão e a Noruega. E conseguiu fazer esquecer que, na realidade, votou contra a saída do Reino Unido da União Europeia, no referendo de 2016. Conhecida por "fazer as coisas acontecer", Truss foi promovida a chefe da Diplomacia em setembro (é a segunda mulher neste cargo) e assumiu, em dezembro, a pasta das negociações pós-Brexit com Bruxelas.
Finanças
A chefe da diplomacia promete "começar a cortar nos impostos desde o primeiro dia" no número 10 de Downing Street, incluindo impostos sobre as empresas. Defende que isso abre a porta ao crescimento económico, permitindo depois responder à crise do aumento do custo de vida. O seu adversário, Rishi Sunak, alerta para os riscos desta política, sendo visto como o candidato da continuidade, enquanto ela se apresenta como a da mudança.
Ucrânia
Johnson tem sido elogiado pelo seu papel de liderança na ajuda à Ucrânia, diante da invasão da Rússia, tendo reiterado que o seu sucessor ou sucessora irão continuar nesse caminho. Tanto Truss como Sunak estão na lista de políticos britânicos impedidos de entrar na Rússia, tendo sido alvo dos ataques do Kremlin. Ela defende aumentar o orçamento de Defesa até os 3% do PIB até 2030, acima do objetivo estabelecido pela NATO, de 2%. Ele não quer estabelecer um "objetivo arbitrário", mas acredita que os 2% são "a base, não um teto", para o orçamento de Defesa.
Oposição
Para o Labour, Truss seria a melhor adversária em caso de eleições gerais, com as sondagens a dizer que o líder da oposição, Keir Starmer, sairia vencedor desse duelo. Mas este cenário ainda está longe e a ministra tem primeiro de enfrentar Sunak, com o Partido Conservador a temer a disputa pelo voto dos militantes. Num debate, a confrontação foi tal que se optou por cancelar o seguinte, temendo pôr a nu as divisões internas e perder eleitores. O debate a dois na BBC, na segunda-feira, será uma primeira prova de fogo.
susana.f.salvador@dn.pt