Sul-coreanos estão mais novos um ou dois anos. Entenda porquê

Até agora, considerava-se que os sul-coreanos tinham um ano de idade à nascença, sendo acrescentado um ano a cada dia 1 de janeiro. Com a entrada da nova lei, passa a vigorar o sistema internacional.
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Pode parecer estranho, mas há uma justificação. Os mais de 51 milhões de sul-coreanos acordaram esta quarta-feira (28 de junho) um ou dois anos mais novos devido ao novo sistema que contabiliza a idade.

Até agora, considerava-se que os sul-coreanos tinham um ano de idade à nascença, de acordo com o sistema tradicional. Mais. Era acrescentado um ano sempre que chegava um Ano Novo, ou seja, quem nascia a 31 de dezembro, no dia seguinte tinha dois anos.

A partir de hoje, o sistema mudou e os sul-coreanos estão mais novos ao ser calculada a idade tendo como base a data do nascimento. Assim sendo, todos ficam oficialmente um ou dois anos mais jovens.

A Coreia do Sul era o último país do leste asiático que ainda usava oficialmente um método de cálculo de idade que determina que os bebés tenham um ano de idade ao nascer, contabilizando os meses no útero como o seu primeiro ano de vida.

Lee Jung-hee iria completar 60 anos no próximo ano, mas como o país decidiu abandonar o sistema tradicional de contagem de idade, a dona de casa de Seul ficou um ano mais nova e não esconde o entusiasmo com esta alteração. "É uma sensação boa", disse à AFP.

"Para pessoas como eu, que deveriam fazer 60 anos no próximo ano, isto faz-nos sentir mais jovens", disse, entre risos.

China, Japão e até a Coreia do Norte abandonaram o sistema tradicional há décadas, mas manteve-se na Coreia do Sul.

"É confuso quando um estrangeiro pergunta-me quantos anos tenho, pois sei que eles querem dizer a idade internacional, então tenho que fazer alguns cálculos", disse à AFP Hong Suk-min, um funcionário de escritório.

Hong acrescentou, após uma pausa, que tinha 45 anos na idade internacional e 47 no sistema sul-coreano.

A mudança oficial terá impacto prático limitado, isto porque muitos serviços legais e administrativos, incluindo a idade que conta no passaporte, a idade em que alguém pode ser processado como menor, benefícios no que se refere à reforma ou serviços de saúde já usam a data de nascimento em vez da idade segundo o sistema tradicional.

O governo espera que a mudança diminua a confusão e cita, por exemplo, a questão dos sul-coreanos mais velhos que podem acreditar que são elegíveis para pensões e benefícios de viagem gratuitas anos antes de serem legalmente elegíveis.

"Existe uma diferença entre a idade que os sul-coreanos usam nas suas vidas diárias e a idade legal e, por causa disso, várias disputas legais podem surgir", disse à AFP o ministro de Legislação Governamental de Seul, Lee Wan-kyu.

O responsável, que está supervisionar a mudança oficial de idade no país, começou uma conferência de imprensa a tentar ensinar aos jornalistas sul-coreanos como determinar a idade que têm.

"Subtraia o seu ano de nascimento do ano atual. Se o seu aniversário já passou, essa é a sua idade, e se o seu aniversário ainda não passou, subtraia um para obter a sua idade", disse Lee Wan-kyu.

Algumas áreas-chave, incluindo o ano letivo, a elegibilidade para o serviço militar obrigatório e a idade legal para beber são determinadas por outro sistema de idade separado - conhecido como "idade do ano" - e esse sistema permanecerá em vigor por enquanto.

Isso significa que, por exemplo, todos os nascidos em 2004 - seja janeiro ou dezembro - podem iniciar o processo de alistamento militar a partir do dia 1 de janeiro de 2023, porque todos são considerados como tendo a idade mínima exigida de 19 anos.

O governo pode considerar a revisão do uso da "idade do ano" para essas áreas, dependendo de como vão decorrer as mudanças atuais, disse Lee.

"A idade realmente importa" na cultura sul-coreana, disse à AFP o antropóloga Mo Hyun-joo, porque afeta o status social referente a uma pessoa e determina quais títulos honoríficos que devem ser usados no trato com os outros. "É difícil comunicar com as pessoas sem saber a sua idade", disse a especialista.

As pessoas normalmente usam termos como "unni" e "oppa" - que significa irmã mais velha e irmão mais velho, respetivamente - em vez de tratar o outro pelo nome nas conversas, explicou.

Por enquanto, a maioria dos sul-coreanos, como o estudante Yoon Jae-ha, da cidade portuária de Busan, no sul, pode simplesmente sentir-se mais jovem quando a entrada em vigor da nova legislação. "A minha idade encolheu", disse à AFP. "Gosto de ser mais jovem porque assim a minha mãe cuidará de mim durante mais tempo", acrescentou.

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