Ter uma bolsa de estudos no ensino superior pode ajudar os alunos a tirarem boas notas, especialmente nos cursos mais exigentes e com notas de acesso mais elevadas. Já os trabalhadores estudantes estão em desvantagem: têm piores notas e demoram mais tempo a fazer o curso. Estas são as conclusões mais significativas do estudo "Preditores do sucesso do aluno: estudo de diplomados do ensino superior português", de José Cerdeira..O estudante de mestrado em Economia da Nova - School of Bussiness and Economics (Nova SBE) confirmou também um resultado que já tinha sido avançado pelo colega de curso Dino Alves: as notas internas do secundário estão mais próximas do nível alcançado pelos alunos do superior do que as notas que conseguiram nos exames nacionais. "São mais constantes porque refletem uma avaliação continuada e não um único momento como os exames", aponta José Cerdeira..Estas conclusões podem servir para que "se revejam critérios de entrada no ensino superior. Se calhar vale a pena dar um pouco mais de liberdade às instituições e permitir outras componentes de acesso como a entrevista ou dar outro peso às notas do secundário". José Cerdeira aconselha ainda a que se faça uma reflexão "ao impacto de se ter um trabalho no sucesso escolar"..Dado que as bolsas funcionam para melhorar o sucesso, o investigador acredita que aumentar o valor das propinas e assim conceder bolsas a mais alunos poderia ajudar a alargar este grupo de sucesso..Atendendo a análise que desenvolveu enquanto estagiou na Direção Geral de Estatística do Ministério da Educação e Ciência, o estudante de mestrado da faculdade de economia da Universidade Nova de Lisboa chegou à conclusão também que não existem grandes diferenças no sucesso entre mulheres e homens e nem entre alunos que vieram de escolas públicas ou privadas. A escolaridade dos pais, que em 46% da amostra tinham frequentado o ensino secundário, também já não é importante para os bons resultados. "No superior a escolaridade dos pais é pouco relevante. A maior escolaridade dos pais influencia a escola durante o ensino obrigatório, mas depois no superior já não tem impacto"..José Cerdeira analisou os dados de 27 412 estudantes que concluíram a licenciatura ou o mestrado integrado 2012 e fizeram exames nacionais de 2006 em diante. Destes estudantes 23 632 fizeram licenciatura (num universo de 44 758 licenciados em 2012) e 3780 eram de programas de mestrado (entre 7797 no total). A média final de curso situou-se nos 14 valores em 20, enquanto as médias de entrada no ensino superior destes estudantes tinha sido de 14,8 valores (nota interna) e 12,7 valores (nos exames). Da amostra, 26% dos alunos vivia fora de casa dos pais, 7% recebeu bolsa de estudo e 5% trabalhava..As comparações estatísticas permitiram assim apontar como grande fator para o sucesso a atribuição de bolsas de estudo e ser estudante a tempo inteiro. O sucesso ligado às bolsas deve-se ao facto deste apoio financeiro depender dos resultados escolares. Os alunos não podem chumbar mais de uma vez em cursos de três anos e mais de duas em cursos de cinco e, em 2012, tinham de passar a metade das cadeiras (agora o mínimo é 60%). Os alunos bolseiros "demoram menos tempo a acabar o curso e têm melhores notas", aponta o autor da investigação. Já os trabalhadores-estudantes enfrentam problemas inversos. "Demoram mais tempo a terminar os cursos e com médias mais baixas".