Suceder a António Costa
Os últimos tempos, à medida que 2023 se aproxima e com ele a possibilidade, plausível, de António Costa deixar a liderança do PS, trouxeram a discussão sobre a sua sucessão na liderança do partido e, como tal, eventualmente de um governo do país.
Na imprensa e nas redes sociais descobrem-se pessoas atentas especialmente a alguns putativos candidatos a secretário-geral do PS: Pedro Santos, Fernando Medina, Ana Catarina Mendes, talvez Mariana Vieira da Silva.
Tudo parece encaminhado para que, depois de Costa, haja forçosamente, desde logo, uma mudança geracional, de modo a cumprir uma suposta regra, que deveria parecer absurda, a de que na vida de um partido político há uma espécie de respeito legitimário entre gerações de políticos, consagrando direitos obrigatórios de sucessão dos mais novos perante os mais velhos. E que os nomes desta mudança em concreto são estes, como se nada mais houvesse à sua volta e apenas políticos profissionais, muito dedicados ao partido e com menos de 50 anos ou em torno desta idade, pudessem ser os legítimos herdeiros da atual chefia do partido.
No entanto, nada obriga António Costa a abandonar a liderança do PS, seja em 2023, seja antes, seja depois. Como aparentemente gosta do lugar e gosta igualmente de ser primeiro-ministro, onde não se tem saído mal, assim parecem pensar desde logo os eleitores, diria que não é absurdo que continue. Para quem fez uma opção de dedicação à vida pública desde muito novo, o mais natural provavelmente é o seu exercício, democrático e sufragado, enquanto o possa exercer.
Por outro lado, mesmo que António Costa opte por fazer outra coisa na vida, seja jogar ténis indolentemente seja ser presidente do Conselho Europeu ou Presidente da República, é irritante que os seus sucessores anunciados sejam apenas aqueles que o querem muito ser e especialmente destacando-se sempre os mais novos. Se há lugar em que a idade e a experiência podem oferecer potencialmente algo de adicional, é o lugar de topo da liderança política de um partido e de uma comunidade política. Porque parece tão natural que Pedro Nuno Santos seja um próximo secretário-geral do PS e não, por exemplo, Ana Gomes, Eduardo Cabrita, Maria Manuel Leitão Marques, José Magalhães, Pedro Bacelar de Vasconcelos ou António José Seguro, queiram-no eles ou não? Ou João Tiago Silveira, Alexandra Leitão, Sérgio Sousa Pinto ou Pedro Marques, sensivelmente da mesma idade? É apenas por se fazer contas circunstanciais de mercearia quanto a votos dados como certos nas estruturas partidárias locais?
Bem sabemos como a comunicação hoje nos impõe deveres de juventude, quase eternos, e muito aprecia uma volúpia de voluntarismo, em que coincida a aparência de grande determinação e a vertigem de se ser predestinado. Mas mesmo assim...
Uma das campanhas eleitorais mais decisivas, não apenas para o PS, mas para especialmente para o país, nos próximos anos, será sem dúvida a da sucessão a António Costa no Partido Socialista. Por isso mesmo deverá ser aberta, livre, séria e feita de propostas e da avaliação de percursos e equipas. Sem preconceitos geracionais nem de supostas heranças partidárias. E que ganhe o melhor - seja isso quando for.
Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa