Subornos da Odebrecht funcionam desde 1985
O "setor de operações estruturadas" da construtora Odebrecht, que funcionava na prática como departamento de pagamento de subornos e foi descoberto na 26.ª etapa da Operação Lava-Jato entre os documentos de um dos seus principais quadros, pode levar a investigação a revelações gigantescas tanto no espaço - número de agentes públicos corrompidos - como no tempo - início das operações. Além de quase todo o universo político, elementos do poder judicial, polícias, diplomacia e exército também podem estar na lista. E tudo desde o governo José Sarney, primeiro presidente após a redemocratização do Brasil, em 1985.
De acordo com o portal UOL, que teve acesso a 400 documentos da investigação, já na era Sarney, histórico político do PMDB que assumiu o cargo na sequência da morte, antes da tomada de posse, de Tancredo Neves, avô do líder do PSDB Aécio Neves, mais de 500 agentes públicos, empresas, empresários, ministros, senadores, deputados, governadores e integrantes de partidos hoje na oposição ao PT de Dilma Rousseff e Lula da Silva recebiam subornos da Odebrecht.
Detalha o portal que, na época, sobretudo no ano de 1988, a construtora pagou aos agentes públicos que a ajudavam na licitação de obras uma percentagem calculada de acordo com o seu envolvimento no esquema. E, também já então, parte dos políticos respondiam por nomes de código.
Antonio Imbassahy, hoje deputado federal do PSDB cujo nome de código era "Almofadinha", Jader Barbalho, agora senador do PMDB, apelidado de "Whisky", Fernando e José Sarney Filho, filhos do antigo presidente, ambos do PMDB, e apelidados de "Filhão" e "Filhote", Roseana Sarney, irmã dos anteriores, também do PMDB e que era a "Princesa", estão nas anotações. O hoje senador Fernando Collor de Mello, que sucederia a Sarney no Planalto, e é tratado por "Mel", também é citado, ainda na qualidade de governador do Alagoas. O atual presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, é outro dos nomes da lista sob o código "Toldo". Foi o TCU que, ao rejeitar contas de Dilma por causa de pedaladas discais (manobras orçamentais), ajudou a prosperar a tese do 'impeachment'.
O esquema de pagamento de subornos, agora tornado público, foi contado aos investigadores da Lava-Jato por Lúcia Tavares, a secretária que se ocupava do processo de pagamento. O UOL falou com a sua antecessora, Conceição Andrade, que disse que "esse esquema de fraudar licitações, subornos, sempre existiu", como prova o facto de que muitas das anotações encontradas ainda eram escritas à mão. "Eram pagas percentagens pelo valor da obra, depois havia um sobrefaturamento e o pagamento em transferências bancárias ou em dinheiro, tal como divulgado na Lava-Jato, só que ainda sem um departamento específico, era feito ao nível da gerência e, acredito, da direção e da presidência", continuou Conceição Tavares. "A saída disto tudo é uma reforma, não demonizar o PT", conclui. Contratados, os visados negaram envolvimento em negócios ilícitos, exceto Collor de Mello, Jader Barbalho, Fernando e José Sarney Filho, que não comentaram.
A Odebrecht, quando enviou nota à imprensa a dizer que os seus executivos aceitavam falar, chamou-lhe, em vez do termo técnico "delação premiada", uma "colaboração definitiva". Definitiva, disse ao 'Folha de S. Paulo' fonte da construtora cujo presidente, Marcelo Odebrecht, está preso em Curitiba, porque fará "a casa [entenda-se a República brasileira] cair". Mais ou menos o que disse Emílio Odebrecht, pai de Marcelo, no momento da detenção do filho, em junho. Marcelo foi condenado a 19 anos de quatro meses de prisão.
Enquanto isso, na Câmara dos Deputados, os parlamentares pró e contra o 'impeachment' de Dilma Rousseff continuam a contar espingardas entre os seus 513 membros de mais de 20 partidos, boa parte deles sem disciplina partidária. O PMDB, partido-chave para qualquer equação como maior força parlamentar, pode desequilibrar a favor do impeachment, a julgar pelos últimos movimentos do vice-presidente, Michel Temer, líder do partido, que cancelou a sua participação num seminário em Lisboa na próxima semana. Mas joga a favor de Dilma o facto de estarmos em ano eleitoral (municipais em outubro), sendo parte dos deputados pressionada por prefeitos para conseguir verbas do governo. E, sem apoio à chefe desse governo, pode não haver verba.
Em São Paulo