Stranger Things. A nostalgia dos anos oitenta, o fantástico e as conspirações

Fomos à premiere da série da Netflix com Winona Ryder, David Harbour e Matthew Modine em Los Angeles
Publicado a
Atualizado a

A Netflix estreia amanhã uma das séries mais viciantes do ano. Stranger Things, que marca a estreia de Winona Ryder em televisão, passa-se em 1983 e transporta-nos para uma pequena cidade do estado do Indiana, numa era sem internet nem telemóveis. Revisita as teorias da conspiração, as experiências secretas da CIA, e introduz um elemento sobrenatural que no início parece estranho mas depois se torna fascinante.

A premiere da série aconteceu em Los Angeles, num edifício em que a Netflix recriou o cenário da ação, com telefones de disco, decoração retro e um ambiente sinistro.

[artigo:5275349]

"Se pudéssemos assistir a qualquer série no mundo, qual gostaríamos de ver? Perguntámos isso um ao outro e foi esta a resposta", explica ao DN Ross Duffer, um dos gémeos que compõe a dupla de criadores, os irmãos Duffer. "Desde pequenos que gostávamos de contar histórias fantásticas. Gostamos de ficção científica e horror, mas contadas a partir de uma perspetiva muito humana e pés no chão", acrescenta Matt Duffer. Os irmãos estavam extáticos na premiere, depois de um tweet do mestre do medo, Stephen King, ele próprio uma enorme referência para os Duffer. "A minha única questão sobre a série da Netflix Stranger Things é se será ou não popular o suficiente para deitar abaixo os servidores deles. É capaz de ser", escreveu King esta semana. É o maior elogio que os Duffer podiam ter recebido - se não fosse suficiente o facto de Winona Ryder, a estrela do cinema, ter aceite protagonizar uma série de televisão.

"Enviámos-lhe o guião e tivemos uma boa reunião com ela, mas acho que foi menos por nós e mais por causa de pessoas como o Matthew McConaughey e o Woody Harrelson [True Detective] que transitaram para a televisão e abriram as portas para que estrelas de cinema fizessem o mesmo." Ao DN, Winona Ryder explicou que teve algumas dúvidas, mas acabou por se lançar no projeto porque era algo de muito diferente.

Winona interpreta Joyce Byers, mãe de um rapaz de 12 anos que desaparece subitamente. A história desenrola-se quando toda a gente começa à procura de Will Byers, incluindo os seus três melhores amigos - e depois uma menina muito estranha que esbarra neles ao fugir de um local bizarro. Os talentos pré-adolescentes são incríveis: Caleb McLaughlin, Gaten Matarazzo, Fin Wolfhard e Millie Brown tornam a série num potencial clássico instantâneo, com uma amizade ao nível de Goonies e Stand By Me.

"Dei por mim tão comovido com estes miúdos, a lembrar-me de quando tinha 11 anos e o mundo parecia fantástico e tão grande e estranho", confessa David Harbour (Quantum of Solace, Revolutionary Road, Black Mass, Suicide Squad), que interpreta o chefe da polícia, Chief Hopper. "Temos esta experiência de seguir estes miúdos. É uma sensação de voltar a ser criança."

Regresso ao passado

Quase todas as estrelas da série nasceram depois dos anos oitenta. Millie Brown, artista britânica de 10 anos que desempenha um papel incrível como Eleven, ficou maravilhada quando descobriu o que era um gira-discos, e obrigou o pai a oferecer-lhe um pelo Natal. Caleb McLaughlin, 12, nunca tinha ouvido falar do jogo "Dungeons & Dragons", que tem um impacto importante na série, até chegar às filmagens.

Joe Keery, que interpreta um quebra-corações adolescente, ficou fascinado com os carros, os penteados e o guarda-roupa. "Assisti a um monte de filmes que saíram nesse ano, 1983, e vi muita coisa do Tom Cruise", conta ao DN, referindo que descobriu música da época que nunca tinha ouvido.

Mas não é só isso. Esta era uma época com pouca ou nenhuma tecnologia pessoal. "Havia mais silêncio. Havia mais espaço. Não estávamos a ser constantemente monitorizados, seguidos, não tínhamos o Google Maps para saber para onde estávamos a ir", descreve David Harbour. "Perdemos muito disso. Na série, parece que há mais tempo para ser criança, construir walkie-talkies com os amigos, andar de bicicleta e fazer coisas simples. Tenho sentimentos mistos em relação ao progresso da tecnologia, e olhando para trás, é como uma lufada de ar fresco. Lembramo-nos de como era."

A série, com uma direção de arte sublime, vai alternando entre situações cómicas - o que ficou provado na premiere, com o público a desatar às gargalhadas várias vezes - e os momentos assustadores, angustiantes. A história está construída de forma a não piscar o olho a referências da ficção científica e centra-se muito mais na exploração das várias camadas das personagens que nos efeitos especiais. Tem uns toques de Ficheiros Secretos, embora os irmãos Duffer confessem que nunca mais viram a série desde a primeira vez que passou na televisão e eles eram adolescentes.

O interessante é que Stranger Things tem cenouras suficientes para cativar tanto quem viveu os anos oitenta e quer reviver a magia, como os jovens cujas referências são muito mais recentes.

Trabalhar com uma lenda

A presença magnética de Winona Ryder, só por si, já justifica o fascínio pela série. Todos os atores disseram algo semelhante sobre trabalhar com ela: incrível. "Ela é ultra profissional, adorei. Deu-me muitos conselhos, sobretudo manter-me humilde e com os pés no chão", conta Millie Brown, que passava metade do tempo a bater à porta do camarim de Winona para irem comer hamburgueres vegetarianos.

"Ela é fantástica, uma atriz curiosa, sempre a fazer perguntas e a explorar o cenário. Foi muito interessante vê-la a contracenar com o David Harbour, aprendi imenso", revela Joe Keery.

Ryder, que nunca tinha feito uma série, apareceu descontraída na premiere, mas os jornalistas foram avisados: nenhuma pergunta sobre Johnny Depp. A sua relação mediática e conturbada com o ator voltou à ribalta por causa do divórcio com a atual mulher, Amber Heard. Ryder está noutro patamar, e não quer que as coscuvilhices cor de rosa dominem este regresso. Afinal, é uma nova era que se abre na televisão. E embora os irmãos Duffer não saibam se vai haver uma segunda temporada, a qualidade da série faz entrever o seu regresso.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt