Star Trek: A odisseia robusta com nostalgia do passado
"Encontraremos esperança no impossível." A deixa do comandante Spock que o trailer de Star Trek: Além do Universo popularizou tem vida para lá do contexto do filme. Se atendermos àquilo que tem sido o esforço de prolongar sagas cinematográficas (incluindo as de animação), com o prejuízo de se oferecerem narrativas estafadas, esta 13.ª longa-metragem da franshise americana, e terceira do relançamento iniciado e produzido por J. J. Abrams - desta vez assinado por Justin Lin -, é mesmo um apontamento de esperança no cenário gasto das sequelas. Para todos os efeitos, Lin, perito em movimentos de risco (destreza que ganhou com a realização de quatro filmes da série Velocidade Furiosa), domina as ferramentas de um entretenimento cuja ação simples, mas espetacular, é uma porta aberta para a alma da série televisiva criada por Gene Roddenberry.
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Num tempo em que a grande inclinação de tudo o que tem continuidade é complexificar narrativas, circunscrevendo-as a um grupo já estabelecido de seguidores, Lin consegue essa coisa extraordinária que é um filme de apelo universal, com o argumento de Simon Pegg e Doug Jung a reforçar os traços humanistas, nomeadamente através do humor, e a integrar os sinais da contemporaneidade (como a revelação da homossexualidade de um dos elementos da Enterprise).
Star Trek: Além do Universo só chega às salas na próxima quinta--feira, dia 25, mas hoje já é possível conhecer o que está por trás do novo título da saga, em sessões de pré-estreia (às 21.00 e 00.00) que terão lugar no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, no MarShopping, em Matosinhos - ambos salas IMAX - e ainda no Almada Forum e GaiaShopping - salas 4D.
Neste recente capítulo, a tripulação que bem conhecemos, e que está no terceiro ano da missão que duraria cinco, é colocada diante de um misterioso perigo. O capitão Kirk (Chris Pine), Spock (Zachary Quinto), McCoy (Karl Urban), Uhura (Zoe Saldana), Scotty (Simon Pegg), Chekov (o desaparecido Anton Yelchin) e Sulu (John Cho) enfrentam o vilão Krall (Idris Elba), que nutre um ódio particular pela Federação - tão particular que teremos de esperar até ao final para perceber a raiz dessa cólera -, e lidera um ataque à nave da Enterprise, dispersando a equipa num planeta estranho, para testar a fibra da sua união. Perdidos em pares, nesta separação temporária que vai dar conjuntura ao aparecimento de uma nova personagem, Jaylah (Sofia Boutella), sobrevivente nesse planeta desconhecido, os membros da tripulação têm tempo para desenvolver o espírito de amizade e proteção mútua, com momentos e diálogos que são aqui detalhes absolutamente fundamentais, se quisermos, como que respirações a promoverem o equilíbrio geral de um filme ligado ao turbo.
Já se tem dito, aliás, que Star Trek: Além do Universo - por aquilo que o trailer indiciava, e a julgar, obviamente, pelo realizador - é mais um trabalho de ação do que de ficção científica. Mas, visto o filme, percebe-se que a confirmação desse aspeto concreto não diminui a magia do lado nerd, sobretudo de Spock, Chekov e Scotty, que marca encontro neste novo lance com uma forte dimensão afetiva. O jovem ator Anton Yelchin, que interpretava o russo Chekov, deixou-nos tragicamente no passado mês de junho, assim como o veterano Leonard Nimoy (em fevereiro de 2015), o Sr. Spock da série de televisão original, marcos na história da saga que no filme de Justin Lin são devidamente homenageados.
Ainda que não se possam apontar novidades à estrutura narrativa em si, porque esta segue propriedades da franchise que fazem parte da manutenção da sua identidade, Star Trek: Além do Universo tem inteligência suficiente para dar vigor à série (já que o último filme, Além da Escuridão, desiludiu) e quiçá conquistar novos seguidores.
A sequela já está na agenda de produção de J. J. Abrams, ainda sem realizador, mas com Chris Hemsworth anunciado, num regresso ao elenco que integrou em 2009, no primeiro filme do reboot, como George Kirk.