Sporting
Uma coisa de que me desinteressei bastante foi o Sporting. Não o futebol: o futebol continua a fascinar-me, como laboratório da economia do século XXI tanto quanto como rito primitivo onde ainda se jogam o desejo, a honra e a transcendência. Sei as contratações, sei os penáltis. Mas já não vibro mais com um novo avançado do Sporting do que com um novo avançado de outra equipa - inclusive daquelas que encarei como inimigas. E, se alguém me detém na rua para falar do Sporting, à procura de um hábito antigo, entedio-me.
Durante toda a minha adolescência pensei no Sporting. Se me pedissem três traços da minha identidade, um deles seria o Sporting. Se me pedissem apenas um, seria um sportinguista. O dia-a-dia do Sporting era o meu dia-a-dia. Vivia a semana sob o signo do próximo adversário do Sporting. Se o Sporting dava na TV, sentávamo-nos lado a lado, eu e o meu pai, a comer pipocas. Se não dava, ouvíamos no rádio e dávamos pontapés em coisas.
Nunca uma equipa de futebol perdeu com tanto estilo como o Sporting.
Por isso, quando vivi em Lisboa vibrei mais ainda. Ia para as bancadas chamar nomes ao árbitro. Zangava-me com amigos. Telefonava ao meu pai e ficava ali a falar de como fôramos roubados - outra vez, todos os dias, sempre a mesma coisa.
Cheguei a escrever livros sobre o Sporting.
Agora, nada. Param-me na rua, a falar do Sporting, e dão-me uma seca.
Era tudo para ele, afinal. O meu pai - para estendermos o braço na direcção um do outro. Hoje tenho-o aqui a cem metros. Não preciso de expedientes.
Quase o perdemos, no Inverno. Pontapeou de volta, como o Paulinho Cascavel, e agora está com ar de quem nos vai enterrar a todos.
Não foi como o Cascavel que ele pontapeou. Já não ligo assim tanto ao Sporting. Só liguei naquele dia, em que pensei que o perdíamos.
neto.joel@gmail.com
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico