Vale de cambra Protesto do Greenpeace acaba em detenções
Nove activistas do Greenpeace foram ontem detidos pela GNR na sequência de um protesto à porta da fábrica Vicaima, em Vale de Cambra, que, de acordo com os ambientalistas, "utiliza madeiras tropicais provenientes de abate ilegal e destrutivo". A administração da empresa refuta as acusações e apresentou queixa contra os manifestantes.
A empresa foi apanhada de surpresa por esta acção organizada pelo Greenpeace e pela Quercus. Ao início da manhã, pelas 07.00, os activistas acorrentaram-se ao portão da Vicaima. Foram recebidos pelo director de produção da empresa, mas, como afirmou ao DN Luís Galrão, da Quercus, "não tinha competência para assumir qualquer compromisso" e o protesto prosseguiu. Pouco depois, os ânimos exaltaram-se com a chegada dos administradores da empresa. Luís Galrão e um operador de imagem da SIC foram agredidos, o que motivou uma queixa policial contra Álvaro Pinto da Costa Leite, também presidente do Finibanco, e seu filho, Arlindo da Costa Leite.
Mais tarde, o empresário afirmou aos jornalistas que a Vicaima "utiliza madeiras importadas de abates legais e é uma empresa certificada em termos ambientais e de qualidade". Igualmente, a Madeiporto, que pertence ao grupo económico, "pauta-se pela legalidade e está em processo de certificação FSC, de controlo de origem das madeiras".
Actualmente, a Vicaima vende 70 por cento para exportação, sobretudo para Inglaterra, e, diz Arlindo da Costa Leite, "tem que respeitar prazos apertadíssimos, sob pena de ser contratualmente penalizada com pesadas indemnizações". "Cada hora que passa somos obrigados a indemnizar e já lá vão quatro horas e meia." Por isso, com o protesto e impedida de escoar mercadoria, a empresa diz ter tido um prejuízo de dez milhões de euros e vai avançar com acções judiciais contra os ambientalistas.
Estes, por seu lado, não se deixam intimidar, até porque afirmam ter informações de que o grupo Vicaima, através da Madeiporto, opera com produtores que promovem o abate ilegal na Amazónia. A Madeiporto seria mesmo "uma das importadoras da madeira transportada pelo navio Skyman", bloqueado na passada semana pelo Greenpeace e pela Quercus quando entrava no Porto de Leixões. Portugal é, segundo os ecologistas, o quinto maior importador mundial de madeira da Amazónia.
Apesar das campanhas, pouco ou nada tem mudado. Ontem, a Quercus distribuiu panfletos aos trabalhadores da Vicaima. "É que, em breve, ou as empresas portuguesas aderem ao plano de acção europeu FLEGT e adquirem apenas madeira certificada ou são estes postos de trabalho que ficam em causa devido à falta de encomendas", diz Luís Galrão. Os activistas detidos foram entretanto libertados, mas já têm o julgamento marcado para 14 de Abril.