Sp. Braga e Benfica: uma história de rivalidade e muitos negócios
O Sporting de Braga recebe este domingo o Benfica (20.30 horas, SportTV1), num jogo aguardado com enorme expectativa entre quarto e terceiro classificados da I Liga, respetivamente, e que acaba por servir de aperitivo para o clássico Sporting-FC Porto, marcado para amanhã. Os minhotos chegam à 14ª jornada com 29 pontos, um ponto atrás das águias, que por sua vez estão a um ponto de leões e dragões.
Se a rivalidade dentro de campo está mais acesa do que nunca, fora das quatro linhas, Sporting de Braga e Benfica têm mantido boas relações institucionais, nomeadamente desde que, em 2003, António Salvador foi eleito presidente do emblema minhoto. Curiosamente, Luís Filipe Vieira também foi eleito presidente do Benfica no mesmo ano e estreitou relações com o seu congénere bracarense, como se prova pela realização de muitas transferências de jogadores entre os dois clubes e até, pelas parcerias em negócios na vida empresarial de ambos.
Ao longo deste século, foram 27 as mudanças diretas de futebolistas entre Sporting de Braga e Benfica: nove da cidade dos arcebispos para a capital e 18 em sentido inverso (veja quadros). Curiosamente, houve uma diminuição acentuada nas seis últimas temporadas, durante as quais a única movimentação foi o empréstimo de Chiquinho por parte do Benfica, no verão de 2021, o que significa que ainda não houve negócios entre Rui Costa e António Salvador.
Uma das transferências mais emblemáticas foi a de Rafa Silva, que no verão de 2016 mudou-se dos guerreiros para os encarnados, a troco de 16 milhões de euros. Este manteve-se como o negócio mais caro entre clubes portugueses até à ida de Paulinho do Sporting de Braga para o Sporting, em janeiro de 2021, por 16 milhões de euros, mas por 70% do passe, enquanto no caso de Rafa o negócio foi referente à totalidade dos direitos económicos.
Essa transferência de Rafa ainda é atualmente a terceira mais cara entre emblemas nacionais, sendo que no topo encontramos agora David Carmo, que se mudou do Sporting de Braga para o FC Porto no verão de 2022, por 20 milhões de euros. Ou seja, o emblema minhoto foi sempre o vendedor nos três negócios que movimentaram mais dinheiro em Portugal.
O Benfica tem sido, regra geral, muito feliz com os futebolistas vindos de Braga. A começar por Rafa Silva, que já soma 297 jogos e 56 golos de águia ao peito, trajeto abrilhantado com a conquista de três títulos de campeão nacional, uma Taça de Portugal e três Supertaças. O antigo guarda-redes Quim foi outro ex-bracarense que atingiu posição de relevo nos encarnados, com 180 encontros realizados entre 2004 e 2010, tendo-se sagrado duas vezes campeão nacional. Já o antigo ponta-de-lança Lima destacou-se com 70 golos em 154 jogos, entre 2012 e 2015, igualmente com dois campeonatos ganhos. Ricardo Rocha, Tiago e Artur Moraes também tiveram bastante sucesso de águia ao peito, enquanto César Peixoto, mesmo com fases em que foi bastante criticado, atingiu a boa marca de 65 desafios pelos encarnados, em 2009/10 e 2010/11. Armando Sá e Luís Filipe tiveram passagens mais discretas pela Luz, mas ainda foram utilizados, respetivamente, em 56 e 41 desafios.
Já o Sporting de Braga tem essencialmente recebido jogadores do Benfica por empréstimo ou em final de contrato. Há casos de sucesso assinalável, a começar por André Horta, que faz parte do atual plantel (215 jogos e 25 golos pelos minhotos), passando por Rúben Amorim, que teve passagem de grande sucesso durante ano e meio (46 jogos, 5 golos e a conquista da Taça da Liga de 2012/13), ou Quim, que em 2010/11 acabaria por regressar ao Minho, após uma marcante passagem de seis temporadas pelo Benfica. Por outro lado, futebolistas como Mawete Júnior, Toni, Michel ou Dolly Menga passaram praticamente incógnitos por Braga, enquanto Chiquinho só fez 15 desafios em 2021/22 e foi "devolvido" ao Benfica em janeiro de 2022, tendo sido na altura emprestado aos turcos do Giresunspor.
Refira-se ainda que no atual plantel do Sporting de Braga há mais três futebolistas com passado no rival, mas que não chegaram vindos diretamente da Luz: o médio Pizzi (figura do Benfica entre 2014 e 2021) e os avançados Ricardo Horta e Rony Lopes, tendo estes dois últimos cumprido grande parte da formação no Benfica.
Entretanto, longe vão os tempos em que o Benfica jogava literalmente em casa quando atuava no terreno do Sporting de Braga. O antigo Estádio 1º de Maio costumava receber uma maioria de adeptos dos encarnados nos jogos entre as duas equipas, mas tudo se alterou neste século, em especial na última década, à boleia do enorme crescimento no número de adeptos e sócios do Sporting de Braga. Hoje em dia, a grande maioria dos benfiquistas que assistem aos jogos no Estádio Municipal de Braga concentram-se num setor com capacidade para apenas 1500 espectadores.
Também a nível de resultados o recinto do Sporting de Braga passou a ser sinónimo de maiores dificuldades para o Benfica. A temporada de 1997/98 marcou uma diferença clara, com os minhotos a partirem para uma inédita série de seis jogos oficiais consecutivos sem perder (dois empates e quatro vitórias). Desde essa época regista-se um curioso "empate técnico" em encontros oficiais, com 12 vitórias para cada lado e sete igualdades, enquanto antes registava-se uma diferença era abissal, com 28 triunfos dos lisboetas, 11 empates e apenas seis vitórias dos anfitriões. Como será hoje?
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