Sorrisos amarelos e uma exigência "inaceitável" no diálogo russo-americano 

MNE russo reiterou que não haverá invasão à Ucrânia. Antes da reunião entre Lavrov e Blinken, o Kremlin disse querer retirada da NATO da Roménia e da Bulgária, enquanto a França e os EUA querem reforçar presença na região.
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Começou com baixas expectativas e da mesma forma terminou o encontro, em Genebra, entre os chefes da diplomacia da Rússia e dos Estados Unidos. À mesa, dois tópicos: Ucrânia e NATO, dois dias depois de o presidente norte-americano Joe Biden ter dado como inevitável uma ofensiva russa em solo ucraniano. Ainda assim, a via diplomática mantém-se aberta, com a promessa de Washington responder por escrito às exigências de Moscovo, retirada da NATO da Roménia e da Bulgária incluída.

Os chefes da diplomacia de Washington e de Moscovo concordaram em continuar a trabalhar para aliviar as tensões sobre a Ucrânia, embora com ambos a renovarem as advertências mútuas e os Estados Unidos a não excluírem uma nova reunião entre os dois presidentes. "Hoje, não ouvi um único argumento que fundamentasse a posição americana sobre o que está a acontecer na fronteira russo-ucraniana, apenas preocupações, preocupações, preocupações...", disse Sergei Lavrov, que voltou a negar o cenário de uma invasão russa. Na Ucrânia, o resultado do encontro foi encorajador. "É bom saber que a via diplomática dos contactos com a Rússia continua ativa", reagiu o ministro dos Negócios Estrangeiros Dmytro Kuleba.

Após as conversações, os países bálticos anunciaram o envio de mísseis antitanque e antiaéreo a Kiev. "Esperemos sinceramente que a Ucrânia não tenha de usar estas armas", disse o ministro da Defesa lituano, Arvydas Anusauskas.

A Rússia, que mantém dezenas de milhares de soldados perto da fronteira leste da Ucrânia e prepara um exercício naval simultâneo do Pacífico ao Atlântico, diz-se ameaçada e quer a retirada de armas ofensivas junto da sua fronteira, que a NATO não admita mais membros, e ainda que a aliança militar volte ao formato anterior a 1997. Nesse ano foi assinado o Ato Fundador sobre Relações Mútuas, Cooperação e Segurança, entre a NATO e a Rússia, no qual Moscovo se comprometeu em respeitar a soberania e integridade territorial de todos os países europeus, o que incluía o direito a escolherem os meios que garantam a sua segurança.

Antes do início das conversações com os EUA, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo publicou respostas a perguntas dos media sobre o desempenho da diplomacia russa em 2021. A uma pergunta sobre o estatuto da Bulgária e da Roménia nesse xadrez em que o Kremlin deseja ditar as regras, o MNE russo respondeu: "[A proposta] foi deliberadamente exposta com a máxima clareza para evitar qualquer ambiguidade. Estamos a falar da retirada de forças, equipamento e armas estrangeiras, bem como de tomar outras medidas para regressar à estrutura que tínhamos em 1997 em países não pertencentes à NATO. Isto inclui a Bulgária e a Roménia."

Durante a semana, quer Joe Biden quer o presidente francês Emmanuel Macron disponibilizaram-se para reforçar com tropas o flanco oriental da NATO.

As reações dos dois antigos aliados do Pacto de Varsóvia, que aderiram à NATO em 2004, foram inequívocas. "A insistência da Rússia na retirada das forças da NATO da Bulgária é inaceitável e sem sentido", reagiu o presidente daquele país, Rumen Radev. "A Bulgária é um país soberano e há muito que fizemos a nossa escolha ao tornarmo-nos membros da NATO. Como tal, decidimos sozinhos como organizar a defesa do nosso país em coordenação com os nossos parceiros", disse o primeiro-ministro Kiril Petkov.

Na Roménia, a resposta foi dada pelo MNE: "Tal exigência é inaceitável e não pode fazer parte de uma negociação", tendo ainda dito que por parte da NATO há "uma reação puramente defensiva ao comportamento cada vez mais agressivo da Rússia na vizinhança oriental".

A Bulgária não tem bases permanentes ou equipamento da NATO , mas acolhe com regularidade tropas norte-americanas no leste do país, para exercícios. Já a Roménia tem um sistema de mísseis balísticos defensivos, de construção norte-americana, e aloja em permanência mil soldados dos EUA. A aliança atlântica rejeitou o regresso da "esfera de influências", o que implicaria o retrocesso das suas capacidades. "As exigências da Rússia criariam membros da NATO de primeira e segunda classe, o que não podemos aceitar", disse a porta-voz da NATO, Oana Lungescu.

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