Sorrir para a foto
Os sorrisos têm várias funções, diz-nos um livro da psicóloga Nadja Reissland. O processo de sorrir pode ele próprio contribuir para sentirmos alegria. Por outras palavras, quanto mais sorrir, mais feliz vai sentir-se. Outro atributo do sorriso é funcionar como sinal social. O sorriso chama a atenção dos que estão à volta. Ontem, por exemplo, o ministro Mário Centeno sorriu, sorriu muito no Eurogrupo. Para quem estava habituado ao estilo menos expansivo de Vítor Gaspar nestas reuniões europeias o contraste não poderia ser maior. O porte austero do anterior governo deu lugar à boa disposição. Neste contexto, podemos ainda lembrar o sorriso de Yanis Varoufakis sempre que ele se encontrava no mesmo círculo político. Mas aquele não era bem um sorriso aberto, como o de Centeno. Era um sorriso zombeteiro, tendo acabado mal para o antigo ministro das Finanças e ainda pior para a Grécia. Numa fase em que tudo pode acontecer a Portugal do ponto de vista económico e financeiro, isto é, quando as propostas de alívio da austeridade ainda terão de ser digeridas e aprovadas por Bruxelas, a linguagem corporal do novo ministro das Finanças revela pelo menos uma espécie de via alternativa que podemos definir assim: nem curvados perante Bruxelas nem irados com a zona euro - apenas à procura do melhor negócio possível. Existem dúvidas legítimas sobre a capacidade de António Costa convencer os seus pares de que o alívio da austeridade já em curso é todo ele possível sem desequilibrar ainda mais as contas públicas. Este esforço de convencimento só terá o primeiro verdadeiro embate em janeiro, quando for enviado o esboço do orçamento para 2016. Nessa altura, o sorriso dos ministros presentes será não apenas simbólico, como agora, será literal e consequente. Confirmará a forma como Portugal vai atravessar os próximos tempos: ou sorrindo justificadamente ou lamentando desesperadamente.