sonhar o futuroao ver as dunas

Publicado a
Atualizado a

A pesar de registos de histórias fantásticas que remontam aos primórdios da era cristã (a Vera Historia, de Luciano, em que se fala de uma rabanada de vento que leva um barco até à Lua, data do ano 160), a ficção científica como género literário nasceu de uma série de obras publicadas no século XIX por autores como Mary Shelley, Júlio Verne e, mais tarde, H. G. Wells. Os seus romances tornaram-se referência para as primeiras gerações de autores do século XX, fizeram escola, definiram caminhos. Mas foram apenas parte da história que formou um autor que, entre os anos 60 e 70, se afirmaria entre a linha da frente de uma geração - onde temos de incluir, entre outros, os nomes de Robert A. Heinlein, Ray Bradbury, Philip K. Dick e Stanislaw Lem - que elevou estas narrativas a um outro patamar literário. "Pai" de Dune, um livro originalmente publicado em 1965 (e que se transformaria no maior best-seller da história da ficção científica), Frank Herbert (1920-1986) é hoje reconhecido como um dos nomes maiores da história do género.

Duna (e a série de cinco outros romances que continuaram a história) é o feito maior de uma obra que teve no conto um importante espaço de criação. Na verdade, Frank Herbert nunca repetiria em nenhum outro livro a dimensão, visão e complexidade narrativa de Duna. O que contudo não deixa de fazer com que uma redução da sua obra aos feitos desse livro sem par não seja tremenda injustiça.

Frank Herbert mostrou cedo um interesse pelas palavras. Em 1939, mal acabara o liceu, já tinha um primeiro emprego num jornal (mentindo quando lhe perguntaram pela idade para garantir o seu lugar). Por essa altura, o seu mundo de leituras já tinha passado por obras de nomes como Ezra Pound, Hemingway, Proust e Shakespeare.

Depois da II Guerra Mundial (durante a qual trabalhou como fotógrafo para a Marinha), Frank Herbert fez um curso de escrita criativa e continuou a publicar. A sua primeira história de aventuras saiu na Esquire, logo em 1945. Sete anos depois, o conto Looking for Something assinalava a sua estreia na ficção científica. Não deixou o jornalismo, que manteve como via em paralelo à escrita de ficção. E foi precisamente de um trabalho jornalístico que surgiu a ideia que o conduziria ao livro que o inscreveu mais tarde na história da literatura.

Em finais dos anos 50, um programa, no campo da ecologia, do Departamento da Agricultura norte--americano, experimentava soluções de contenção do avanço de dunas sobre estradas através da plantação de vegetação. A bordo de um pequeno avião, sobrevoou campos de dunas. Sentiu-as como se se comportassem como um fluido, levando contudo mais tempo a mover-se. E fez-se luz...

Dedicou os sete anos seguintes a um trabalho de preparação de um épico de ficção científica, com subtexto ecologista, que o obrigou, além de um domínio de temáticas nas áreas da ecologia, história, religião, mitologia e matemática, a criar todo um mundo de ficção repleto de planetas, povos, éticas e filosofias.

Duna gerou um fenómeno que, nos anos seguintes, fez de Frank Herbert um nome de referência. Chamou atenção para os seus outros livros, dando-lhe ao mesmo tempo uma notoriedade que se projectou em trabalhos que manteve até à sua morte, em 1986, tanto na escrita para jornais, como mesmo em trabalhos para universidades ou como consultor sobre ecologia. Neste último caso a mostrar como a ficção, por vezes, alerta para a realidade.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt